16 maio 2024

A Decisão do TEDH (171)

 (Continuação daqui)



171. Mais criminoso do que o seu próprio cliente

Quando, há cerca de três anos, numa daquelas operações espalhafatosas e muito medievais, o empresário Joe Berardo foi detido às ordens do Ministério Público, por essa altura eu já reclamava para mim próprio uma certa expertise sobre o funcionamento do sistema de justiça português.

E logo me pareceu que este caso continha singularidades que careciam de explicação. 

A primeira era a de que, juntamente com Joe Berardo, foi detido o seu próprio advogado.  Ora - pensei - este advogado não deve pertencer à Cuatrecasas nem a nenhuma outra das grandes sociedades de advogados porque, se pertencesse, o Ministério Público não tinha pedido a sua detenção.

Uma pequena pesquisa na internet e logo ficou confirmada  a minha tese. Este advogado tem uma pequena  empresa de advocacia, que possui o seu próprio nome - André Luiz Gomes & Associados -, deve ser só ele e mais uns quantos estagiários.

Mas a maior singularidade deste caso não era esta, vinha a seguir. O Ministério Público imputou ao advogado André Luiz Gomes mais crimes (20) do que imputou ao seu cliente Joe Berardo (13). Um caso insólito, provavelmente nunca visto. Aos olhos do Ministério Público, pelo menos, o advogado era mais criminoso do que o seu próprio cliente.

Os crimes imputados a ambos eram os esperados: branqueamento de capitais, burla qualificada, fraude fiscal, etc.

Como explicar este aparente paradoxo, que formação tinha tido este advogado, e onde a adquiriu, para conseguir um feito que é dificilmente entendível ao espírito do cidadão comum que ainda vê o advogado como um agente da justiça, e não como um criminoso?

Mais uma curta pesquisa na internet e o mistério estava desvendado. Durante onze anos (2005-2016) ele foi sócio da Cuatrecasas. Na realidade foi como sócio da Cuatrecasas que André Luiz Gomes conheceu Joe Berardo e começou a trabalhar para o empresário. Joe Berardo já era cliente da Cuatrecasas há vários anos.

Até que em 2015 ocorreu um acontecimento catastrófico para Joe Berardo e para o próprio advogado André Luiz Gomes. O advogado saiu da Cuatrecasas, em situação de litígio, e levou consigo o cliente Joe Berardo (e, provavelmente, outros apetitosos clientes).

O advogado André Luiz Gomes deu cabo da sua própria vida. Para o resto da sua vida ele vai ter de lidar com as sérias acusações criminais que pesam sobre si. E tem em risco os próprios meios da sua subsistência porque, a todo o momento, a Ordem dos Advogados lhe pode retirar a licença para exercer a advocacia (cf. aqui), tanto mais quanto é certo que a presidir ao órgão máximo de jurisdição da Ordem está um advogado posto lá pela Cuatrecasas - Paulo Sá e Cunha.

O advogado André Luiz Gomes terá aprendido muito na escola da Cuatrecasas, mas esqueceu um ensinamento básico. Uma máfia não perdoa deslealdades. 


Referências:

-"liderar um bando de ladrões": cf. aqui

-"Mentora do esquema: Cuatrecasas": cf. aqui

-"A escola da Cuatrecasas": cf. aqui

-"Escola maravilhosa": cf. aqui

-"foi sócio da Cuatrecasas": cf. aqui

-"Vivem do roubo legalizado": cf. aqui

-"um erro catastrófico": cf. aqui

-"o seguro de vida": cf. aqui

(Continua acolá)

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