(Continuação daqui)
30. Um dia
Como o acórdão do TEDH veio agora demonstrar, o meu julgamento em 2018 no Tribunal de Matosinhos foi uma palhaçada judicial. Não existia crime nenhum, apenas encenação para perseguir criminalmente e desacreditar socialmente o presidente da Associação Joãozinho e, por essa via, a obra mecenática de construção da ala pediátrica do Hospital de São João, que eu estava a liderar.
Talvez por isso, as salas dos tribunais estão hoje geralmente vazias, ninguém está para perder tempo para brincar com coisas sérias ou para dar solenidade a meras encenações de juristas.
No meu caso, só houve quatro pessoas que assistiram a todas as sessões do julgamento. Foram os meus irmãos MA e FA e respectivas mulheres, MA e CA. Em cada uma das sessões, vinham propositadamente na véspera de Lisboa ao Porto para assistir ao julgamento. A sessão mais concorrida foi a última, com a leitura da sentença, e a presença de alguns jornalistas.
Nós, os irmãos, temos diferenças de idades de dois anos, sendo eu o segundo. Em crianças brincávamos juntos e éramos muito unidos. Crescemos antes do 25 de Abril em que uma pessoa ser julgada era um assunto muito sério.
Quando os meus irmãos souberam que eu iria ser julgado, creio que ficaram ainda mais assustados do que eu próprio ("teria eu roubado um banco?") e perguntaram-me se podiam vir assistir ao julgamento. Respondi que sim. Seria a primeira vez para todos nós que iríamos assistir a um julgamento.
Logo ao intervalo na manhã da primeira sessão, depois de assistirmos àquela solenidade toda, o juiz a entrar na sala, o magistrado do MP atrás dele, parecia o padre e o sacristão, mais os advogados e a escrivã, todos fardados de toga, tratando-se uns aos outros com os maiores salamaleques, o meu irmão MA, que é o mais velhos de nós três, olhando em volta pelo átrio do tribunal perguntou em voz alta "O quê, mas este aparato todo por tu teres chamado politiqueiro ao Rangel!?"
O julgamento começara com a identificação do réu. O momento mais penoso para mim ocorreu aí quando, de pé, perante o juiz, tive de dizer o nome do meu pai e da minha mãe. O que é que o meu pai e a minha mãe tinham que ver com aquilo? Certo também para mim era que, onde quer que eles estivessem, naquele momento eles estariam preocupados com a sorte do filho. Foi um momento que eu senti como de grande humilhação.
Talvez por isso, foi também nesse momento que eu tive um sentimento que não sei bem se era de vingança ou se era um clamor de justiça: "Um dia todos estes patifes vão pagar isto bem caro!".
Aconteceu seis anos depois e, curiosamente, foi no Dia do Pai (cf. aqui). Curiosamente também, recuando no tempo, a principal sessão do julgamento - a quarta - tinha tido lugar a 4 de Maio, o dia em que passavam 23 anos sobre a morte do nosso pai (um dia que deixei registado neste blogue: cf. aqui).
Nesse dia, depois da sessão do julgamento, jantámos os três no restaurante Líder no Porto, um dos melhores e mais tradicionais restaurantes da cidade, e relembrámos o nosso Pai, enquanto as nossas mulheres foram ao cinema.
(Continua acolá)
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