05 fevereiro 2024

O MASSACRE DA TRAFARIA

TRAFARIA



Todos os dias somos fustigados com mensagens sobre as guerras que pretendem inculcar a ideia de que não há civis inocentes. Todos os russos são responsáveis pela invasão da Ucrânia, porque elegeram o Putin, e todos os palestinianos são responsáveis pelos ataques terroristas do Hamas, porque votaram neles.

 

É deste modo que se justificam os ataques da Ucrânia à população civil do Donbass e de Belgorod e os 27.000 mortos em Gaza. Penso que não é necessário contrapor qualquer argumento para desmontar esse pressuposto. A guerra é paz e os crimes de guerra são caridade.

 

Portugal tem uma palavra a dizer sobre massacres, uma vez que os executamos múltiplas vezes ao longo da nossa história, sem dó nem piedade.

 

Um desses massacres que se destaca foi o massacre da Trafaria em 24 de Janeiro de 1777.

 

Na praia da Trafaria junto ao Rio Tejo, tinham-se refugiado alguns jovens que temeram o recrutamento militar ordenado pelo Marquês de Pombal... Irado pela afronta à sua autoridade, o Ministro ordenou o cerco militar da aldeia, onde viviam cinco mil pessoas e havia apenas uma centena de intrusos foragidos do recrutamento para o exército. E, sem piedade nem distinção de pessoas, resolveu queimá-los numa grande fogueira, que enroscou cinco mil vítimas, mulheres, velhos e crianças, enfermos, com as serpentes das suas labaredas. De facto, a aldeia foi cercada por trezentos soldados, que durante a noite incendiaram a povoação com archotes: Despertaram aquelas cinco mil vidas na sufocação de fumaradas e no estalejar da madeira.

 

Ensaio de José Eduardo Franco

 

No massacre da Trafaria estima-se que foram assassinadas 5.000 pessoas e Pombal conquistou a alcunha de “Nero da Trafaria” com que Camilo Castelo Branco o agraciou.

 

Por certo, os responsáveis pelos atuais massacres, que nos visitam todos os dias pela TV, terão no futuro as suas estátuas em locais de destaque, como o Nero da Trafaria tem na praça que vergonhosamente ostenta o seu nome.

 

Não me espantam os massacres, que têm acompanhado a história da humanidade. O que me espanta é o elevado número de pessoas que os apoiam.

 

A morte de Deus e o niilismo contemporâneo acabaram com a dignidade humana.

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