09 janeiro 2024

Um passo de gigante (164)

 (Continuação daqui)



164. Já basta os que existem cá fora


No seu mais recente artigo na Visão, onde semanalmente defende a sua corporação, o magistrado Adão Carvalho termina de uma maneira que reflecte bem a cultura prevalecente no Ministério Público, fazendo a pergunta e dando ele próprio a resposta:

"Então qual o porquê desta campanha orquestrada contra o Ministério Público? A resposta só pode ser uma. Controlar o Ministério Público para criar paraísos penais, para que a justiça funcione apenas para alguns" (cf. aqui).

Já se imaginou o que esta cultura representa num interrogatório judicial a um inocente:

-Você estava no local tal à hora tal?

E, antes que o arguido possa responder Não, o inquisidor responde por ele:

-Claro que estava.

Não são apenas as chamadas perguntas fechadas, em que a mesma pessoa faz a pergunta e dá a resposta, é sobretudo a consequência das perguntas fechadas - a batota, a falsidade, a desonestidade, a impostura. 

É isso que ressalta da resposta do magistrado Adão Carvalho.

É verdade que há pessoas que estão interessadas em que a justiça não funcione para todos, mas apenas para alguns. São os criminosos. 

Porém, os criminosos - por mais que o Ministério Público se esforce para fabricar mais - são uma ínfima proporção da população portuguesa que, segundo os indicadores internacionais, é uma das populações mais pacíficas do mundo (cf. aqui). 

A esmagadora maioria da população portuguesa não quer nada de paraísos penais, quer que a Justiça funcione com justiça, com equidade e com celeridade.

Para isso, a esmagadora maioria dos portugueses não quer  um Ministério Público que, em lugar de ser justo, é um Ministério Público criminoso, que acusa regularmente pessoas inocentes (crime de calúnia), que manda prender pessoas que não cometeram crime nenhum (crime de sequestro), que escuta telefones a cidadãos impolutos (crime de devassa da vida privada), que exige cauções a quem está isento de qualquer crime (crime de extorsão), que arresta bens a quem não fez mal a ninguém (crime de roubo), que faz política sob a aparência de estar a fazer justiça, inventando crimes para deitar abaixo governos democráticos nas autarquias e no país (crime de atentado ao Estado de Direito).

Em suma, aquilo que a esmagadora maioria da população portuguesa quer, e por isso agora desencadeou uma forte campanha contra o Ministério Público - a qual só peca por tardia e pela sua suavidade -, não é nada controlar o Ministério Público. É uma coisa muito diferente. É que não haja criminosos no Ministério Público.

Já basta os que existem cá fora, que, afinal, não são assim tantos.

(Continua acolá)

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