31 dezembro 2023

Um passo de gigante (154)

 (Continuação daqui)

Ex-presidente da Câmara de Vizela, Diniz Costa, e ex-presidente da Câmara de Barcelos, Miguel Costa Gomes


154. Tiro ao alvo

A Inquisição, extinta em 1821, e da qual viria a nascer em 1832 o Ministério Público, foi reactivada em Portugal e Espanha no século XVI para defender o poder ditatorial e centralizado das monarquias católicas contra os ventos da democracia e da descentralização que sopravam do norte da Europa.

Os alvos preferenciais do Ministério Público não são, portanto, apenas as instituições democráticas. São sobretudo aquelas que, ao seu carácter democrático, acrescentam também a descentralização do poder. Ora, as instituições possuindo visibilidade pública que melhor juntam estes dois atributos são as Câmaras Municipais.

Por isso, o Ministério Público não deixou fechar o ano de 2023 sem, na última semana,  disparar duplamente contra os seus alvos preferidos. Foram acusados o ex-presidente da Câmara de Vizela, Diniz Costa, pelo crime de prevaricação (cf. aqui),  e também o ex-presidente da Câmara de Barcelos, Miguel Costa Gomes, pelos crimes de prevaricação, perseguição e abuso de poder (cf. aqui).

A descrição que é feita pela comunicação social em ambos os casos revela tratar-se de assuntos de lana caprina suscitados por rivalidades políticas típicas de pequenas comunidades e que acabarão em absolvições.

A acusação desta semana contra o ex-presidente da Câmara de Vizela seguiu-se a outra de peculato que tinha sido produzida anteriormente e à qual ele reagiu dizendo tratar-se de um "embuste" e de um "assassinato político" (cf. aqui).

É nisto precisamente que o Ministério Público é especialista - o assassinato político - porque um número esmagador das suas acusações contra autarcas acaba em absolvições. Trata-se daquilo que o falecido autarca de Viseu, Almeida Henriques - Figura do Ano deste blogue em 2021 (cf. aqui) e que, ele próprio, morreu arguido - chamou de política de  tiro ao alvo do Ministério Público sobre os autarcas.

Um poder democrático e descentralizado é algo que o Ministério Público não pode ver à frente. Não descansará até dar cabo dele. E não poderia fechar o ano sem lhe dar mais uns tiros.

(Continua acolá)

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