02 dezembro 2023

GUERRA

GUERRA




 

‹‹O povo de Madrid deixou-se arrastar à revolta e ao assassinato… Sangue francês foi derramado. Sangue que demanda vingança››. – Marechal Joachim Murat

 

Os fuzilamentos do 3 de Maio de 1808 – Goya (Museu do Prado) retrata a repressão francesa sobre os revoltosos que organizaram um levantamento contra a ocupação Napoleónica.

 

O que sentimos quando contemplamos o “Três de Maio”? De um lado temos um pelotão militar, armado e determinado à execução da vingança. Do outro lado temos elementos da população civil, arrebanhada como gado para o matadouro.

 

Impulsivamente, eu assumo a defesa da população. São o lado fraco, estão indefesos e a vingança não passa de uma cobardia. Os fracos são corajosos, mesmo na morte e os fortes são fracos, acoitados na obediência cega de ordens superiores.

 

A tendência para a defesa das vítimas é um elemento importante da cultura Cristã. Goya explora esta componente através da figura central dos executados: Um homem de camisa branca (a cor da pureza) e braços abertos, com chagas nas mãos, como o próprio Cristo.

 

O rosto dos militares está oculto, porque ficam despersonalizados e desumanizados nos seus uniformes, enquanto as vítimas expressam desespero e pânico.

 

É quase certo que os revoltosos assassinaram soldados franceses e que, portanto, também não são inocentes, mas quando contemplamos o “Três de Maio” esquecemos os crimes cometidos para apoiar os que se apresentam como fracos e indefesos.

 

A cultura católica terá uma propensão para perdoar assassinos? Foi o próprio Jesus Cristo que nos seu momentos finais exclamou:

 

‹‹Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo››.

 

Pergunto-me quantas pessoas se identificarão com os militares? Mas intimamente julgo que não serão boas pessoas porque se identificam com uma força sem rosto.

 

A vitimização dos agressores tem sido usada até à exaustão, nos atuais conflitos da Ucrânia e de Gaza. Tratando-se de guerras por procuração, os beneficiários sem rosto não devem esperar qualquer compaixão.

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