15 dezembro 2023

CONVERGÊNCIA

CONVERGÊNCIA



 

Em 1964, a Editora Springbok, lançou no mercado um puzzle com a imagem da pintura CONVERGÊNCIA, do Jackson Pollock, promovido como “o puzzle mais difícil do mundo”.

 

Difícil porque a pintura não representa figuras, nem respeita linhas geométricas, nem continuidade de elementos. É o produto da “ação artística” do pintor, que jorrou jatos de tinta sobre uma tela assente no chão.

 

Difícil também de interpretar, pelo mesmo motivo. É um quadro caótico, pleno de entropia e, portanto, distante de se enquadrar em qualquer análise racional.

 

Contrariamente às obras clássicas, que vão buscar o seu desiderato à matriz cultural da sociedade, a CONVERGÊNCIA espelha uma espécie de individualismo radical. É o que cada um quiser que seja!

 

Estaremos a falar de arte, quando contemplamos uma obra anti-humanista? Uma obra desenraizada da natureza humana?

 

Do realismo clássico ao surrealismo, o toque humano nunca faltou. Seja pela representação de cenas que nos são familiares, seja por remeterem para arquétipos oníricos que residem no inconsciente do Homo sapiens.

 

A CONVERGÊNCIA, porém, renega esse toque humano e apresenta-se como algo que parece robótico, de uma era pré Inteligência Artificial. Um produto feioso que fere a sensibilidade artística.

 

Um excesso de boa vontade pode dar o benefício da dúvida ao Jackson Pollock de que nos querer lembrar da tragédia existencial da humanidade, de um tempo de desordem em que a vida era ‹‹solitária, pobre, desagradável, brutal e curta›› — Leviatã de Thomas Hobbes.

 

Na minha perspectiva, a CONVERGÊNCIA, ao eliminar o humanismo, apenas exalta o caos. É uma vitória de Dioniso sobre Apolo e não augura nada de bom porque não podemos sobreviver sem ordem.

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