AVE MARIA
A arte induz determinados estados mentais, uma combinação de emoções e sentimentos que podem contribuir para alterar a nossa visão do mundo. Quando visitamos as Cavernas de Altamira, o Panteão de Roma ou contemplamos a Guernica, sofremos uma transformação. “Saímos da caixa” e não mais voltamos ao espaço de partida.
Creio que arte facilita que a tal caixa se amplie para acolher novas perspectivas, novas possibilidades, até surgirem outros desafios e sermos compelidos a sair de novo da caixa, da nossa “área de conforto”, para regressarmos mais conscientes e mais sábios.
Visitar as Cavernas de Altamira é sentir o apelo à ação — GOYA (Get off Your Ass) — os recursos não são maná que cai do céu, vai à caça vai... (Quem Mexeu no Meu Queijo?).
O Panteão é uma obra do anjos (Michelangelo), podes espreitar o céu e acolher o Sol pelo seu óculo. Rafael “está no céu” porque se tornou imortal e superou a própria natureza.
A Guernica é um alerta para o caos provocado pela guerra. A maioria da população Ocidental não passou por uma guerra e não precisa de passar se se sentar a contemplar esta obra-prima do Picasso. Tudo é preferível aos caos da guerra.
A música atinge-nos de modo diferente e talvez mais profundo. Os sons podem-nos “tirar do sério” (desculpem o brasileirismo) e irritar, como o choro estridente de uma criança ou provocar sensações de intemporalidade (out of body experiencies).
Os cantos gregorianos exaltam os sentimentos religiosos precisamente por essa capacidade da música de nos transportar para um universo paralelo (paraíso?).
Ontem (9/12/2023) foi o funeral da minha irmã ML que tinha falecido 2 dias antes. Os funerais são sempre tristes, mas neste caso pior porque a ML sucumbiu a uma “doença acelerada” que a afastou do nosso convívio em apenas 5 meses.
No final do ofício, uma pianista entoou a Ave Maria, de Schubert, enquanto o féretro saía transportado pelos irmãos. Os presentes não contiveram as lágrimas da despedida.
A música tem este efeito sobre nós, eleva-nos para um estado mental diferente e talvez superior, talvez menos introspetivo, talvez menos egoísta, talvez mais próximo da “Caritate et Veritas”.
Sem música não existiria a civilização Ocidental, sem música talvez não existisse cultura.
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