12 dezembro 2023

A DANÇA

LA DANCE — Moulin Rouge 1890



 

Henri de Toulouse-Lautrec (1864 – 1901) é um dos pintores que mais admiro. Sofria de uma forma de nanismo congénito, que hoje é conhecida por Síndrome de Toulouse-Lautrec (Pycnodysostosis) e que pode estar relacionado com a consanguinidade dos pais (primos 1º).

 

A sua obra é fruto de uma vivência em Montmartre, Paris, no círculo de outros pintores (van Gogh) e poetas (como William Yeats, representado ao balcão) e no convívio com raparigas dos bordéis, que inspiraram um grande número das suas pinturas.

 

Contemplar os quadros do Toulouse-Lautrec é um certo voyeurismo sobre a vida de boémia e deboche do final do século XIX de Paris — Belle Époque. O pintor, que faleceu aos 37 anos vítima de alcoolismo e sífilis, não é exemplo de vida, mas se lhe dermos o desconto de empatizar com o seu sofrimento físico (múltiplas fracturas) e aspecto, podemos quase racionalizar o seu comportamento.

 

Pequeno de estatura e doente, Henri tornou-se um gigante no mundo da arte. E se a sua passagem pela Terra foi curta, a sua alma é eterna.

 

O seu retrato das meninas dos bordéis é impressionante pelo realismo brutal, aliado a uma gentileza peculiar. As raparigas não aparentam estar a vender ilusões, apenas momentos de convívio, dança e alegria.

 

É possível superarmo-nos e produzir algo de intemporal se não sairmos do aconchego da vida burguesa? Suponho que sim, mas talvez seja a exceção à regra. A rotina, as vistas curtas, a ausência de estímulos e até a ausência de tempo, não são aliadas da criatividade.

 

Há um veneno na pequena vida paroquial que embota a originalidade e a criação. Para quê trocar o certo pelo duvidoso? Diz o povo e com razão, mas depois penso no Conde Henry de Toulouse-Lautrec, filho da mais fina aristocracia francesa, destinado a esconder o seu aspecto físico numa torre de marfim e considero que, por vezes, é preciso olhar para baixo para subir ao céu.

 

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