31 julho 2023

O assalto (11)

 (Continuação daqui)


11. Ladrão que rouba a ladrão




A fase do assassínio do carácter dos arguidos foi sempre essencial aos processos da Inquisição como é hoje aos do Ministério Público, e essa fase está agora a decorrer.

Aproveitando o facto de os arguidos se encontrarem presos e não se poderem defender, o Ministério Público lança cá para fora toda a infâmia que os possa difamar e caluniar aos olhos da opinião pública. Fá-lo com a conivência dos jornalistas porque a tradição inquisitorial está em todos os portugueses e não apenas nos procuradores do Ministério Público.

Peças processuais umas atrás das outras, a maior parte delas extraídas de escutas telefónicas e absolutamente descontextualizadas, são lançadas cá para fora e todas têm um elemento em comum  - fazer parecer mal os arguidos, assassinar-lhes o carácter, fazer com que eles apareçam aos olhos da opinião pública como verdadeiros criminosos.

A baixeza dos criminosos oficiais chega ao ponto de lançarem cá para fora detalhes da vida íntima dos arguidos e de pessoas que nada têm a ver com os processos, como já tinham feito em processos anteriores envolvendo, por exemplo, José Sócrates ou Pinto da Costa.

Vale tudo desde que contribua para que as pessoas passem a ver os arguidos como autênticos criminosos.

E porquê esta necessidade absoluta do assassínio de carácter dos arguidos, esta necessidade absoluta de os fazer parecer aos olhos da comunidade como verdadeiros criminosos?

Porque, frequentemente, eles não cometeram crime nenhum e o Ministério Público precisa de justificar em público o roubo que sobre eles cometeu, eufemística e juridicamente chamado arresto.

A partir do momento em que aos olhos da opinião pública os arguidos sejam vistos como ladrões, o Ministério Público tem o problema resolvido. 

É que, mesmo que anos depois, o povo se convença que os ladrões estão no Ministério Público, como entretanto já está convencido que os arguidos também são ladrões, então, nessa altura,  encolhe os ombros e exclama: "Olha... deixa lá ... é como diz o velho ditado: Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão".


(Continua)  

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