De repente, muitos deputados da nação, alguns que nunca governaram uma família sequer, andam preocupados com a governação das famílias portuguesas.
Primeiro foi com o aumento do preço dos alimentos nos supermercados, depois com as prestações do crédito à habitação e agora é com as taxas de remuneração dos Certificados de Aforro (CA).
O PCP e o BE estão particularmente agastados com a decisão do Governo de baixar a taxa de juro dos CA de 3,5% para 2,5% (cf. aqui e aqui).
Mas não deviam estar. A decisão foi totalmente acertada numa perspectiva de boa gestão da dívida pública, como explicou o Secretário de Estado das Finanças (cf. aqui).
Para este ano, com a taxa de juro a 3,5%, o Governo propunha-se angariar 5 biliões de euros através dos CA. No final de Maio, já tinha angariado 10 biliões, uma verdadeira indigestão e o ano nem sequer vai a meio.
Conclusão: a taxa de 3,5% era manifestamente elevada para os objectivos de gestão da dívida pública que o Governo se propunha atingir com os CA. Daí a decisão de a reduzir.
Coitadinhos dos aforradores, dizem o PCP e o BE, que agora só vão poder ganhar 2,5% sobre as suas poupanças, e não mais 3,5% como até aqui. Foi um favor que o Governo fez aos bancos que estavam a ver sair o dinheiro dos depósitos para os certificados de Aforro, acrescentam eles.
Mas não foi. Se os bancos precisassem desse dinheiro, há meses que teriam eles próprios subido as taxas sobre os depósitos, o que não fizeram. E mais, mesmo com a taxa dos CA a 2,5% o dinheiro continuará a fluir dos depósitos bancários para os CA, que continuam a ser uma boa alternativa.
PCP e BE permanecem inconformados, acham que as taxas de juro dos CA deveriam continuar em 3,5%, em lugar dos novos 2,5%.
Mas não deviam.
Entre os investidores em CA encontra-se muita classe média mas também muito capitalista, pobrezinhos é que não. Já quanto aos pagadores de impostos, que servem para pagar os juros aos investidores em CA, nem os pobrezinhos escapam, quanto mais não seja nos impostos indirectos.
Quer dizer, o PCP e o BE acham que os pobrezinhos devem pagar para a classe média e os ricos continuarem a auferir taxas de retorno de privilégio, fixadas administrativamente e claramente acima do mercado.
Nunca visto, os pobrezinhos a pagarem para os ricos.
É muito triste ser pobrezinho em Portugal. Até os partidos que dizem defender os pobrezinhos acabam a carregar sobre eles.
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