As ideias terceiro-mundistas defendidas no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra pelo professor Boaventura Sousa Santos e seus associados, e que têm alguma popularidade na muito católica América Latina, possuem uma enorme semelhança com a Teologia da Libertação que esteve em voga neste continente nos anos 80.
Embora com origem alemã, a Teologia da Libertação foi popularizada na América Latina sobretudo pelo padre franciscano Leonardo Boff (cf. aqui), que mais tarde viria a abandonar o sacerdócio. As ideias da Teologia da Libertação voltaram à actualidade recentemente sob o pontificado do Papa Francisco, também ele latino-americano, e encontram-se expostas com toda a clareza na sua Encíclica Fratelli Tutti (cf. aqui).
O mundo é divido entre pobre e ricos (ou entre explorados e exploradores ou entre vítimas e opressores) e a pobreza dos pobres é devida à riqueza dos ricos. Os pobres são pobres e os ricos são ricos porque os ricos se apropriaram indevidamente do quinhão que pertence aos pobres. Neste momento, estamos à beira da revolução popular e da luta de classes, em que o uso da violência se torna legítimo para permitir aos pobres reaverem dos ricos aquilo que os ricos lhes roubaram.
Foi este apelo implícito à luta de classes e à violência que levou o Papa João Paulo II, sob a ação do então cardeal Ratzinger, a proibir a Teologia da Libertação nos anos noventa. O argumento por detrás da proibição é inatacável - o cristianismo prega o amor entre os homens e não a luta entre eles. A Teologia da Libertação é incompatível com o cristianismo. O marxismo não é cristão.
Na Encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco resolve esta contradição de uma maneira que deixa estarrecido qualquer leitor atento. Depois de subscrever e ideia de que os pobres são pobres porque foram roubados pelos ricos (cf. aqui) abrindo a porta à acção violenta dos pobres contra os ricos, o Papa apela ao amor fraternal para resolver o problema. O amor fraternal levará os pobres a aceitar pacificamente o roubo perpetrado pelos ricos. E é ainda o amor fraternal que levará os ricos ao arrependimento e a devolver aos pobres aquilo que antes lhes roubaram. Aceitando o apelo do Papa Francisco, os ricos tornam-se uma espécie de ladrões arrependidos.
É neste ponto, obviamente, que o pensamento do professor Boaventura se afasta do Papa, e se torna bastante mais coerente do que o do Papa, e perfeitamente anti-cristão e marxista. Se os pobres são explorados pelos ricos (e as mulheres pelos homens e os negros pelos brancos, etc.) eles estão absolutamente legitimados para recorrer à revolução popular e à violência para repor a justiça. Os explorados são os pobres, os negros e as mulheres, e os exploradores são os ricos, os brancos e os homens - numa palavra, os neoliberais nascidos na cultura cristã e europeia (eurocentrismo).
O Papa Francisco prega o amor, o professor Boaventura prega o ódio. Parece estar a receber agora uma boa dose da sua própria medicina.
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