Em certo sentido, a Alexandra Reis foi uma vítima. A gente olha para ela e não lhe vê maldade, e muito menos a argúcia e a coragem para fazer aquilo que lhe atribuem. Foi um sonho que aconteceu na vida dela e que acabou em tragédia.
Nunca ela, nascida em Leiria de famílias modestas, alguma vez pensou ter acesso aos serviços da sociedade de advogados Morais Leitão, não tanto pelo qualidade dos serviços que eles prestam, mas pelo preço que cobram. É como os sapatos de sola vermelha do Christian Louboutin. À parte a côr da sola, são sapatos como os outros.
No caso da Morais Leitão e da Alexandra Reis, juntou-se a passadeira vermelha com o sonho da sola vermelha. Às tantas, ela já via o mundo todo a vermelho.
A Alexandra Reis está para sociedade de advogados Morais Leitão como a Josefa Pistolas estava para sociedade de advogados do Doutor Adriano (cf. aqui). Nunca lhe passou pela cabeça extorquir escandalosamente dinheiro ao Estado. Ela não tem competência para isso - isso é uma especialidade das sociedades de advogados, especialmente das maiores.
Os advogados da Morais Leitão chegaram junto dela e disseram-lhe:
-Excelentíssima, Formosíssima, Reverendíssima, Senhora Engenheira Alexandra Reis, Princesa do Pezinho Vermelho, vamos pedir à TAP uma indemnizaçãozinha de milhão e meio de euros por Vossa Excelência se ter chateado com a presidente da companhia, aquela francesa maluca...
Assim que ouviu falar em milhão e meio de euros, a Alexandra Reis revirou os olhos, revirou, revirou, começou a imaginar sapatos de sola vermelha, e respondeu candidamente:
-Por mim, está tudo bem...os senhores é que sabem...
Foi este o momento fatal e foi também o que os advogados da Morais Leitão quiseram ouvir. Depois de a informarem que cobrariam uma sacesse fi de 30%, que ela achou bastante natural, ainda assim ficava com mais de um milhão de euros na poche, puseram-lhe um contrato e uma procuração à frente e disseram-lhe:
-Queira Vossa Senhoria, Meritíssima, Digníssima, Engenheiríssima Alexandra Reis assinar aqui e aqui...
E ela, sentada num sofá do luxuoso escritório da Morais Leitão, tomando um drink ao som da música Lady in Red (cf. aqui), assim fez, assinando em letras bastante garrafais:
-Alechandra Réis,
porque lá em Leiria carregam muito nos éis
Hoje, é ela que está nas bocas do mundo e a fazer a figura da má-da-fita, em risco de ter de devolver o dinheiro que recebeu indevidamente e, ainda por cima, ficar arruinada. É que os advogados da Morais Leitão, esses, já com a sacesse fi no bolso, e sem qualquer intenção de a devolver, estão caladinhos que nem uns ratos.
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