05 dezembro 2022

Um juiz do Supremo (142)

 (Continuação daqui)



142. A boca no trombone

Não faltaram pressões sobre Duarte Lagarelhos para pôr a boca no trombone e denunciar o judge AAA, também conhecido internacionalmente por judge Marehlino.

Como a que é relatada aqui:

"Mais relatou a esposa do assistente [judge Marehlino], que o arguido PP [filho de Duarte Lagarelhos] ainda lhe disse que havia um processo no … contra o Dr. AAA [judge Marehlino]e tinham muito interesse em incriminá-lo; aliás, havia um Procurador no … que dissera ao seu pai [Duarte Lagarelhos] que falasse, que incriminasse o Dr. AAA [judge Marehlino], que o tirava da cadeia mesmo que mentisse". (cf. aqui)

Porém, Lagarelhos nunca pôs a boca no trombone.

Porquê?

O mistério começa a desvendar-se por algo que terá acontecido entre dois momentos decisivos do processo.

O primeiro momento ocorre em 2003 quando são presos os membros da rede de tráfico de ecstasy para os EUA que tinha um dos seus centros em Bragança, e de que Duarte Lagarelhos era o financiador. Ao ser preso nos EUA, Jaime Luciano Rodrigues afirma perante o FBI que Lagarelhos lhe insinuava que era protegido por um juiz de nome Marehlino (cf. aqui).

Logo que tem conhecimento de que o seu nome anda a ser falado nos EUA por ligações ao tráfico de droga, o juiz Marehlino, fazendo uso da velha estratégia de que a melhor defesa é o ataque, põe imediatamento um processo por difamação contra Jaime Luciano e outro contra Lagarelhos.

Nesta altura, já estavam ambos presos e a situação de Lagarelhos era particularmente má. Para além de ter um processo crime por tráfico de droga, sendo considerado um dos cabecilhas da rede, tinha outro posto pelo seu amigo, juiz Marehlino, por difamação agravada. 

Lagarelhos que, nessa altura, já era sexagenário, estava destinado a passar muitos anos na cadeia, provavelmente o resto da sua vida. Mas ele era um homem de negócios - muitos e variados negócios - pelo que certamente não iria recusar um negócio que surgisse e fosse vantajoso para ambas as partes envolvidas.

O segundo momento ocorre mais tarde quando Duarte Lagarelhos, no âmbito do processo por difamação, declara que tem muita consideração pelo juiz Marehlino, que lamenta muito os inconvenientes que lhe causou, só faltou ajoelhar-se a pedir desculpa, e cai pesadamente sobre Jaime Luciano, a quem acusa de ter mentido ao FBI.

"-  E que, no auto de Interrogatório efetuado no âmbito do Inquérito iniciado com base na queixa supra referida, em 27 de Maio de 2005, NN [Duarte Lagarelhos] declarou que:

"(...) sempre manteve as melhores relações com o assistente/queixoso [judge Marehlino], por quem tem grande estima e consideração, lamentando profundamente o incómodo que isto acarreta para o queixoso/assistente prontificando-se a ser testemunha do queixoso/assistente, se este assim o entender contra o OO [Jaime Luciano Rodrigues]" (cf. aqui).

Em agradecimento, o juiz Marehlino desiste da queixa contra Duarte Lagarelhos. E Jaime Luciano acaba condenado por difamação agravada ao juiz Marehlino com uma pena de dez meses de prisão suspensa e 25 mil euros de indemnização, por um juiz de Bragança sujeito à avaliação do inspector judicial Francis Marehlino.

O que é que se terá passado entre o juiz Marehlino e Duarte Lagarelhos para esta alteração radical da posição do juiz a respeito do seu amigo Lagarelhos?  


(Continua acolá)

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