04 julho 2022

um processo de beatificação


O relatório que tenho vindo a citar (cf. aqui) foi publicado recentemente. É um trabalho da empresa britânica GCPS Consulting - uma empresa de consultoria especializada na protecção de crianças - sob encomenda do Movimento dos Focolares (ou Obra de Maria) em França, quando não era mais possível ignorar as noticias de práticas pedófilas dentro do Movimento, e que já tinham levado à demissão dos seus mais altos responsáveis (cf. aquiaqui).

O relatório centra-se na figura de JMM (hoje com cerca de 80 anos), um membro consagrado dos Focolares que, de forma sistemática, durante décadas, abusou sexualmente de crianças e adolescentes pertencentes ao Movimento.  A Comissão de Inquérito confirmou 26 vítimas, e suspeita de mais 11, mas estas últimas não quiseram prestar declarações e não foi possível confirmá-las. 

O relatório está escrito numa linguagem sóbria e profissional que não convida ao escândalo. Mas todo o seu conteúdo é escandaloso. Para além dos abusos praticados por JMM, a Comissão de Inquérito recebeu queixas sobre outros perpetradores dentro do Movimento, mas não lhes pôde dar seguimento por saírem fora do seu mandato.

Durante mais de 30 anos, entre 1963 e 1998, JMM usou a sua posição de autoridade dentro do Movimento dos Focolares para abusar sexualmente das suas vítimas, todas do sexo masculino. A hierarquia do Movimento, quer em França, quer em Roma, tinha conhecimento dos abusos, mas decidiu escondê-los e nada fez para os evitar. Durante este período, a presidente do Movimento era a sua própria fundadora, Chiara Lubich (1920-2008) que tem em curso um processo de beatificação, que - espera-se - fica agora comprometido (cf. aqui).

Em 1997, uma das vítimas colocou um processo crime contra JMM, mas os crimes de abuso sexual já tinham prescrito. Porém, venceu num processo cível, em que JMM foi condenado a pagar uma indemnização de 50 mil francos. Foi o Movimento (sempre sob a presidência de Chiara Lubich) que pagou por ele, mas nada fez em relação a JMM. Somente em 2016 seria expulso do Movimento.

O relatório da GCPS Consulting vem confirmar aquilo que já se sabia sobre os Focolares em França e que tem tido um efeito devastador sobre o Movimento neste país (cf. aqui e aqui).

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