O ano de 2019 foi um ano de júbilo para o Movimento dos Focolares. Com o cardeal Ângelo Becciu, ele próprio membro do Movimento, à frente da Congregação para a Causa dos Santos, a primeira fase da beatificação de Chiara Lubich decorreu com incrível rapidez e sem quaisquer incidentes (cf. aqui).
De dentro da Igreja, a principal oposição a tornar Lubich uma santa vinha dos jesuítas para quem Chiara era uma maníaca egocêntrica convencida que era deusa (cf. aqui).
A primeira fase da beatificação - curiosamente patrocinada por uma padre português -, foi a fase diocesana e ocorreu na diocese de Frascati, a que Chiara pertencia. A segunda fase, que seria decisiva, iria ocorrer no Vaticano, e com o cardeal Becciu a presidir à Congregação para a Causa dos Santos, tudo indicava que não tardaria muito até que Chiara Lubich fosse considerada santa.
Talvez por isso, o ano de 2020 foi, pelo contrário, um annum horribilis para o Movimento dos Focolares e para a beatificação de Chiara Lubich, e não foi por causa do covid. Foram dois os acontecimentos catastróficos que se abateram neste primeiro ano de pandemia sobre o Movimento dos Focolares.
O primeiro veio curiosamente de um jesuíta. O Papa Francisco destituiu o cardeal Becciu de todas as suas funções - a principal, é preciso não esquecer, é que ele era o presidente do departamento do Vaticano que se encarrega das beatificações -, retirou-lhe a imunidade e mandou-o para julgamento pelo seu alegado envolvimento num esquema de corrupção financeira (cf. aqui).
O golpe do jesuíta Bergoglio sobre o seu colega focolare Becciu foi tão cruel e violento que Becciu mais parecia a figura de Jesus Abandonado, uma imagem que é central ao culto dos Focolares.
Mas para que ele não ficasse completamente abandonado, sozinho de todo, destituído de todos os cargos, acusado de peculato e corrupção, e mandado para julgamento no Vaticano sem quaisquer cerimónias, uma mão amiga (presumo que de um jesuíta) arranjou-lhe companhia.
O cardeal Becciu, de 72 anos de idade, apareceu indiciado na comunicação social como possuindo uma amante de 39 anos, que lhe teria custado meio milhão de euros, e que, alegadamente, gostava de comprar sofás ao preço de 12 mil euros a peça (cf. aqui). Na realidade, não se recebe um cardeal numa qualquer peça de quinquilharia.
O segundo acontecimento catastrófico veio de França. Foi em 2020 que vieram a público os abusos sexuais cometidos sobre crianças no seio do Movimento dos Focolares neste país. Neste mesmo ano, demitiram-se os dois responsáveis do Movimento dos Focolares em França e ainda um dos responsáveis do Movimento para a Europa Ocidental (cf. aqui).
No seguimento destes acontecimentos foi recentemente publicado o relatório da auditora britânica GCPS que veio confirmar os abusos e sugerir, para além de toda a dúvida, que a própria Chiara Lubich os conhecia e os encobriu.
A questão agora é: Uma santa que encobre pedófilos? (cf. aqui)
Vai ser difícil, sobretudo agora, sem o cardeal Becciu a presidir à Congregação para a Causa dos Santos.
Sem comentários:
Enviar um comentário