(Continuação daqui)
4. A fada
O mistério viria a ser desvendado nas vésperas das eleições legislativas de 2019 quando os jornais noticiaram em catadupa:
Observador: "Juízes conselheiros vão ter aumentos de 700 euros" (cf. aqui)
Jornal Económico: "Marcelo aprova aumentos salariais de 700 euros para os juízes mas critica fosso salarial para os polícias e militares" (cf. aqui)
Sábado: "Marcelo promulga aumentos salariais de 700 euros para juízes conselheiros" (cf. aqui)
Expresso: "Marcelo promulga 16 diplomas mas diz que salário de juízes acentua desigualdades" (cf. aqui)
Observador: "Além dos juízes quem é que recebe do Estado um salário superior ao de primeiro-ministro?" (cf. aqui)
Foi um aumento e pêras para os juízes, especialmente para os juízes no topo da carreira, os juízes conselheiros.
Foi um aumento dado em vésperas de eleições e que causou compreensível indignação pública, especialmente em outros sectores do Estado, como os miliares e os polícias. O próprio Presidente achou aquilo um exagero. No topo da carreira, os juízes conselheiros passavam a ganhar mais do que o primeiro-ministro.
O mistério estava agora mais ou menos desvendado e só faltava responder à questão mais fácil: Será que os juízes tinham no Conselho de Ministros alguma fada que os representasse e que tivesse proposto e feito aprovar uma lei tão generosa para a corporação de que ela própria agora fazia parte?
O aumento foi extensivo aos procuradores do Ministério Público:
Jornal Económico: "Magistrados do Ministério Público também vão ganhar mais que o primeiro-ministro" (cf. aqui),
significando que a fada não se esqueceu sequer da sua antiga corporação.
Perante a indignação geral, a fada sentiu necessidade de vir a público justificar-se: "Salário de juízes sem tecto do primeiro ministro repõe remuneração "a que tinham direito", diz ministra"(cf. aqui)
A justificação para aqueles aumentos desproporcionados era, afinal, uma questão de justiça.
(Continua)
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