O jantar

O crime, a existir, consistira na realização de um jantar que teria tido lugar a 17 de Janeiro de 2021 no Restaurante Solar do Paço em Tebosa, Braga, e que foi amplamente difundido pela comunicação social (cf. aqui).

Pergunta-se: Por que é que o Ministério Público só produziu a acusação sete meses depois, em Agosto, nas vésperas da campanha eleitoral para as autárquicas?

Foi por causa da investigação criminal.

Tal como aconteceu com a célebre investigação da Praia do Meco (cf. aqui), o Ministério Público só enviou uma equipa de investigação para o local do crime meses depois dos factos, a 23 de Abril. Era constituída por 34 agentes de GNR, 12 magistrados do MP e 3 juízes de instrução. 

Objecto da investigação: saber se houve ou não jantar.

 O crime: Houve jantar ou não houve jantar?

A equipa de investigação ainda encontrou vestígios de comida já apodrecida e farrapos de guardanapos de papel nas imediações do restaurante, mas ficou na dúvida  se eram do jantar do Chega a 17 de Janeiro ou de uma boda de um ex-padre com uma moça grávida de Tebosa que tinha tido lugar na semana anterior.

Também foram encontradas, nas traseiras do restaurante, 23 garrafas vazias de espumante Murganheira, reserva bruto (normal). Este achado atrasou consideravelmente a investigação porque passou a ser relevante para os investigadores responder à questão:

-Será que o eurodeputado Paulo Rangel também esteve presente no jantar? (cf. aqui) 

Ao todo, foram constituídos arguidos um porteiro do restaurante, dois cozinheiros e três empregados de mesa, sujeitos à medida de coação mais leve: termo de identidade e residência.

As investigações foram suspensas ao meio-dia dessa sexta-feira porque dois juízes de instrução e oito magistrados do MP tinham família em Lisboa e vinham passar o fim-de-semana do feriado de 25 de Abril à capital.

Por volta de  20 de Maio já se tinham realizado oito reuniões da equipa de investigação do MP para saber se houve crime ou não houve crime, quer dizer, se houve jantar ou não houve jantar. Por essa altura, um dos magistrados do MP já sofria de insónias e acordava a meio da noite a perguntar à mulher:

-Oh Micas... tu achas que houve jantar?...

No início de Junho, havia já consenso entre a equipa de investigação do MP de que o jantar se tinha realizado,  apenas com dois dissidentes que achavam que aquilo era tudo fake news. O foco da investigação tinha-se tornado o local do crime.  Crime tinha havido - assegurava a maioria dos magistrados do MP que faziam parte da equipa de investigação -, a questão era o local.

Apesar das fotografias publicadas nos jornais e das imagens da televisão, não havia consenso, nem sequer aproximado, entre os magistrados do MP quanto ao local em que se realizou o jantar. Vários magistrados argumentavam que as imagens sugeriam um local que não era Tebosa, concelho de Braga, mas que poderia ser a Quinta Avenida em Nova Iorque.

O local do crime: Tebosa (Braga) ou Quinta Avenida (Nova Iorque)?

A  18 de Junho, depois de pedirem a cooperação do FBI, quatro magistrados do MP embarcaram para Nova Iorque onde se divertiram bastante e aproveitaram a estadia para uma acção de formação junto da polícia criminal americana subordinada ao tema "How to distinguish the Fifth Avenue in New York from the Portuguese village of Tebosa, Braga", que mais tarde deu argumento para um filme em Hollywood.

Quando regressaram, todos os elementos da delegação davam como certo que o crime não tinha sido cometido na Quinta Avenida, em Nova Iorque, embora dois continuassem a acreditar que as imagens do jantar postas a circular pela comunicação social não eram de Tebosa, mas talvez de Las Vegas. O problema é que já não havia ajudas de custo que sobrassem para pagar as viagens de avião para o Estado do Nevada e para jogar uns dólares nas máquinas. 

E foi assim que se chegou às férias judiciais em Julho, obrigando os magistrados do MP a trabalho extraordinário - devidamente remunerado com um prémio de 700% sobre o valor-hora normal - a tempo de porem a acusação cá fora, disponível para a imprensa, no início de Agosto e sem que houvesse conflito com as eleições autárquicas previstas para o mês seguinte.

Como veio a acontecer.