10 janeiro 2021

Está no nome

 


Carlos Guimarães Pinto (CGP), ex-presidente do partido Iniciativa Liberal (IL) e colaborador deste blogue, dá esta semana uma entrevista ao Sol que tem destaque de primeira página.

 O título diz "Guimarães Pinto prepara novo projecto político" e o subtítulo cita o entrevistado e diz: "Passos Coelho é respeitado por todo o espaço político de direita e capaz de o liderar".

Fica-se com a ideia de que o CGP abandonou o Iniciativa Liberal e que o projecto político deste partido está pronto a diluir-se no PSD, sobretudo se for liderado de novo por Passos Coelho.

O Sol é um jornal ligado ao PSD e, em parte, aproveitou-se da entrevista para transmitir esta mensagem que só em parte é verdadeira. Decorre da entrevista que o CGP está a preparar uma iniciativa de cariz cívico, mas não de cariz político-partidário. Mas já quanto à outra parte da mensagem que o Sol passa, essa sim, encontra fundamento na entrevista, a saber a proximidade do CGP e do Iniciativa Liberal ao PSD.

A questão tem mais que se lhe diga. O CGP aproveita a oportunidade para se demarcar fortemente do Chega, ao mesmo tempo que se aproxima do PSD: "O PSD e a Iniciativa Liberal, com as suas diferenças, fazem parte do mesmo espaço político", diz ele, um espaço político de onde exclui explicitamente o Chega. 

Desde há algum tempo que me parece um erro o Iniciativa Liberal eleger como seu principal adversário político o Chega, que também se afirma um partido liberal. Tendo passado à lupa o programa político do Chega (cf. aqui), de que tenho vindo a dar nota neste blogue, eu vejo ali o liberalismo, embora com uma diferença em relação ao liberalismo do IL.

O liberalismo do Chega é um liberalismo de raiz católica, adaptado à cultura dos portugueses, ao passo que o liberalismo do IL é um liberalismo anglo-saxónico, de raiz protestante que, com propriedade, se pode dizer ser o verdadeiro e original liberalismo. 

Em termos práticos, a principal diferença é que o Chega é conservador nos costumes - rejeitando radicalmente a agenda LGTB - ao passo que o IL é liberal nos costumes, deixando essas matérias à escolha de cada um.

Em termos de implantação popular, embora os dois partidos estejam a começar, é já visível que o liberalismo do Chega é mais popular do que o liberalismo do IL. O primeiro estende-se já ao centro e sul do país, enquanto o segundo está concentrado nas cidades de Lisboa e Porto (cf. aqui).

E percebe-se também os extractos sociais a que um e outro apelam. Na região de Lisboa, o Chega obteve as suas melhores votações nos concelhos de Loures, Odivelas e Amadora, ao passo que o IL teve os votos mais numerosos nos concelhos de Cascais e Oeiras. O Chega apela à classe média-baixa e o IL à classe média-alta.

Eu esperava, portanto, ver uma sã rivalidade cooperativa entre o Chega e o Iniciativa Liberal contra o adversário comum, que é o sistema, na figura dos dois partidos que desde sempre governaram Portugal em democracia - o PS e o PSD.

Aquilo que eu não esperava nada ver era um partido liberal, como o IL, a dizer que tem muito em comum com um partido socialista, como o PSD. 

Está no nome: Partido Social(ista)-Democrata. E na prática política.

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