9. A Comissão
-Como é que uma obra pública - a construção da ala pediátrica do Hospital de São João - que estava a ser realizada por via mecenática e executada por um consórcio de duas construtoras escolhidas em concurso por terem oferecido as melhores condições mecenáticas para a realizar, acaba boicotada pelo PSD e adjudicada a uma construtora conotada com o PSD, ainda por cima seis milhões e meio de euros mais cara (26.7 milhões vs. 20.2 milhões)?
A pergunta é longa e a resposta é ainda mais longa. Mas o propósito deste post é mais humilde, visando apenas descrever a parte final daquele processo de transferência.
Se eu fosse chamado a utilizar uma palavra - uma palavra só - para qualificar aquela ponta final do processo de transferência, que palavra utilizaria eu?
-Cómica,
para não enlouquecer.
A administração do Hospital de São João e a Ministra da Saúde decidiram não cumprir os compromissos assinados com a Associação Joãozinho e voltaram costas à obra que estava a ser realizada por esta associação.
Este incumprimento por parte da administração do HSJ e da Ministra da Saúde teve o apoio do Governo e da Assembleia da República.
E foi assim que, em Novembro de 2018, a Assembleia da República, tendo em conta a urgência da obra, aprovou por unanimidade que ela fosse feita por ajuste directo (cf. aqui).
A obra ficava, pois, dispensada de concurso público, e a administração do HSJ ficava com carta branca para a adjudicar a quem quisesse, sem mais explicações.
Porém, em lugar disso, e para dar uma aparência de imparcialidade, a administração do HSJ decidiu nomear uma Comissão, presidida pelo Eng. Joaquim Poças Martins, que iria escolher a empresa à qual a obra seria adjudicada (cf. aqui).
O Eng. Poças Martins é uma figura conhecida do PSD-Porto (cf. aqui). Foi secretário de Estado de um governo do Professor Cavaco Silva, vice-presidente da Câmara de V.N. Gaia quando a presidência pertencia ao social-democrata Luís Filipe Menezes. Nas autárquicas de 2016, chegou a ser falado como candidato à Câmara de Gaia pelo PSD (cf. aqui).
Porém, a vida pública do Eng. Poças Martins tomou outro rumo. Liderando uma lista afecta ao PSD, o Eng. Poças Martins concorreu a bastonário da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN) e ganhou (cf. aqui).
Entre os membros da sua lista, estava um discreto engenheiro de Braga, chamado António Carlos Fernandes Rodrigues, que é hoje o representante do bastonário Poças Martins naquele distrito (cf. aqui)
Acontece, porém, que o Eng. António Carlos Fernandes Rodrigues, além de ser o representante do Bastonário Poças Martins em Braga, também é presidente da Comissão Executiva de uma conhecida construtora sediada em Braga - a Casais (cf. aqui, fazendo click em "Comissão Executiva")
Voltando à Comissão, presidida pelo Eng. Poças Martins, que a administração do HSJ decidiu constituir para escolher a construtora que iria fazer a ala pediátrica do Hospital: uma das primeiras decisões que esta Comissão tomou foi a de convidar catorze construtoras para se apresentarem a um mini-concurso a fim de ser escolhida aquela que iria realizar a obra (cf. aqui).
-Catorze!... Uff!...
Eu ia continuar a história, mas creio que não é necessário.
O leitor já deve ter adivinhado, dentre as catorze - catorze! - construtoras convidadas pela Comissão presidida pelo Eng. Poças Martins para fazer a ala pediátrica do HSJ, qual foi aquela que ganhou o concurso.
A solução está aqui.
(Continua aqui)
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