(Continuação daqui)
O Juiz-Pistoleiro
(Novela)
Cap. 13. "Eu tenho um irmão…"
Naquela noite, o juiz e o réu saíram abraçados do tribunal, eram dez e um quarto, directos a uma marisqueira de Littlebushes. Ainda convidaram o árbitro mas este disse-lhes que não, que tinha a mulher ao telemóvel a dizer-lhe que eram horas de jantar.
O magistrado Guimarães, esse, saiu para o seu escritório no DIAP onde foi fazer horas extraordinárias, que eram pagas a cinco vezes a taxa normal, para pôr em ordem o registo dos crimes que tinha identificado nesse dia, bem como os respectivos autores.
Logo que se sentaram, o juiz disse ao Joe Pistolas que o jantar era por conta dele, não havia sequer discussão acerca disso. Tinha sido um dia extraordinário para ele. Para além dos duelos, tinha recebido, à hora do almoço, a notícia de que o tribunal da sua terra tinha decidido um caso de ofensas a seu favor, condenando um jornalista a pagar-lhe uma indemnização de vinte cinco mil euros.
(Meses depois, o juiz que tinha proferido esta sentença viria a receber uma nota de 20 valores numa avaliação de desempenho que teria o juiz Francis dos Coldres como único avaliador).
Bebiam ainda o primeiro copo, à espera do arroz de marisco, que custava oitenta euros, mas dava para duas pessoas, e o juiz foi logo directo ao seu assunto preferido - a maneira como tinha ganho os dezoito duelos ao Joe Pistolas naquela tarde, e só tinha perdido um.
-E foi por causa da toga, Joe...senão, nem nesse terias escapado…
acrescentou ele orgulhoso.
Joe Pistolas concordava com tudo o que o juiz Francis dizia, mas aproveitou para, delicadamente, lhe dar alguns conselhos…
-Oh Francis … mas tens de evitar alguns erros, pá... para seres um verdadeiro campeão … como aquele em que, em vez de levares a mão ao coldre, levaste a mão ao bolso...Eu é que sou teu amigo, pá… senão … com o tempo que perdeste a sacar da pistola... tinha-te estourado os miolos…
Ao ouvir isto, o juiz ficou em transe, abriu muito os olhos, emborcou mais um copo e disse a Joe Pistolas, em voz baixa e olhando para os lados, certificando-se de que ninguém estava a ouvir:
-Joe … convidei-te para jantar … porque tenho um grande favor a pedir-te….
-Oh pá… se é dinheiro … afasta já o cavalinho da chuva...que isto anda muito mal...
-Não … não é dinheiro, felizmente… ainda hoje ganhei 25 mil só com a honra… É uma coisa muito mais grave e confidencial…
-Oh pá… nisso da confidencialidade estás à vontade… está à frente de um poço…
-Pois … tens de me prometer que não dizes a ninguém … e o que fôr preciso pagar… eu pago… estás à vontade…
-Oh pá… desembucha lá, caraças…pareces o Adriano lá do tribunal que só fala e não diz nada … a propósito... o que é que o gajo quer de mim…?
-Ele representa a viúva do teu irmão … a tua cunhada … que quer de ti uma indemnização de cem mil euros por lhe teres morto o marido…
-E o gajo não faz um desconto? …
-Não sei … tens de falar com ele... eu sei de um caso em que ele fez um desconto de 95% a um arguido… também começou por lhe pedir cem mil … mas depois já deixava a coisa por cinco mil…
-Tá bem, pronto… eu depois falo com ele… e tu, o que é que queres, afinal, de mim?...
perguntou curioso Joe Pistolas, enquanto punha a manteiga no pão.
Foi então que o juiz Francis dos Coldres se levantou ligeiramente da cadeira, debruçou-se sobre a mesa, baixou a voz e lhe disse quase ao ouvido:
-Eu tenho um irmão…
(Continua aqui)
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