08 outubro 2019

O Juiz-Pistoleiro (15)

(Continuação daqui)


O Juiz-Pistoleiro
(Novela)

Cap. 15. "Eeeeeeeuuuuuuu!?..."



Nesse dia, o juiz Francis dos Coldres chegou muito triste a casa, e disse para a mulher:

-Olha... Maria Eufémia… fui outra vez constituído arguido…

-Oh homem … valha-te Deus … em lugar de teres ido para juiz devias ter ido para criminoso…está sempre a ser constituído arguido…

-És bem capaz de ter razão, mulher…,

concordou o juiz.

-Da última vez...  foi por teres batido no teu irmão…e agora?...

-Micose da virilha…

-Mas tu não tens micose na virilha…

-Pois não… mas não me deixaram mostrar a virilha lá no DIAP...

-E por que é que não me chamaste para eu ser testemunha?...

A mulher já estava a ficar irritada e o juiz Francis explicou então que estava muito nervoso por lhe terem ficado com o coldre na recepção. Estavam dois seguranças no DIAP, e um agente da PSP armado, ele ainda desafiou o agente da PSP para um duelo, mas o agente não aceitou.

O juiz Francis, depois de ganhar dezoito duelos consecutivos ao campeão mundial de duelos, versão Mauser 7 mm, desafiava agora toda a gente para um duelo. Saía de casa de manhã para tomar café e desafiava a empregada da pastelaria, fazendo girar o gatilho sobre o dedo indicador direito antes de disparar para o ar.

Chegava ao tribunal e desafiava a escrivã para um duelo.  Passava na rua por um transeunte, e desafiava-o para um duelo. Quando chegava a casa à noite, entrava a porta já de pistola em punho, e só a mulher o conseguia dominar apontando-lhe o dedo indicador direito e fazendo:

-Pum...pum!...

Cavalheiro, a mulher era a única pessoa que ele aceitava que lhe ganhasse.

Sem o coldre à cintura e a pistola próxima dos dedos, o juiz sentia-se fraco e desprotegido e foi só por isso que se deixou passivamente constituir arguido no DIAP, mesmo estando inocente.

-Mas não faz mal... Maria Eufémia… deixa lá... eu vou requerer a abertura da instrução e levo-te comigo como testemunha…,

Foi assim que ele tranquilizou a mulher.

A abertura de instrução era uma procedimento do processo penal que permitia ao arguido comparecer perante um juiz de instrução e provar a sua inocência, evitando o julgamento.

Aquilo que o juiz Francis dos Coldres, na sua inocência, não sabia, é que, logo que saiu do DIAP, o magistrado Toni Guimarães, mestre em manobras por detrás das cortinas, falou a uma juíza sua amiga para lhe dizer:

-Olá Cati… vais receber aí um processo do juiz Francis dos Coldres por micose da virilha…

-E o que queres que faça, Toni?

O magistrado Guimarães respondeu-lhe em código:

-Tu não és dermatologista... pois não, Cati?...

-Entendido,

respondeu a juíza, desligando o telefone.

Entre a cozinha e a sala de jantar, Maria Eufémia abanava a cabeça enquanto punha a comida na mesa, o marido já sentado e de faca afiada:

-Nunca mais tens juízo, homem… sempre metido em sarilhos…,

dizia ela para o atazanar.

-Deixa lá… mulher… que isto vai dar em nada…,

Mas era ela, agora, que tinha uma notícia para lhe dar.

-Olha, ... falou-me esta tarde a Mercedes para me  dizer que o teu irmão está no hospital…

-Qual deles?,

perguntou o juiz com grande curiosidade.

-O mais novo…

Os olhos do juiz abriram-se muito:

-Porquê?

-Olha … eu sei lá… parece que ao sair da loja apareceram dois homens que lhe deram uma tareia...tem três costelas partidas e a cara feita num bolo...

Os olhos do juiz brilhavam agora a olhar para a sua mulher.

Ao ver aquele encantamento nos olhos do marido, ela perguntou-lhe, desconfiada:

-Disseste-me há dias que andaste a jantar com pistoleiros… Oh Chico, tu não me digas que estás metido nisto!?...

O juiz Francis fez um ar muito sério, levantou-se da cadeira, espetou o indicador direito pelo peito dentro, arremelgou muito os olhos e disse, profundamente indignado:

-Eeeeeeeeeuuuuuuuuuu!?…


(Continua aqui)


Sem comentários: