13 junho 2019

é a Justiça

Existe uma parte de mim que está muito feliz com o escândalo em torno do juiz Sérgio Moro no Brasil que eu julgo irá ter, a curto prazo, consequências catastróficas para a democracia brasileira (e não só).

Porquê?

Porque o escândalo vem pôr a nu uma verdade pela qual eu me tenho batido desde há vários anos neste blogue (e em outros lugares, como no Porto Canal e no jornal Vida Económica) mas, tenho de admitir, sem grande sucesso (e com vários custos pessoais).

Essa verdade é mesmo o tema central do meu livro "F. - Portugal é uma Figura de Mulher" editado em 2014, largamente com base em textos publicados neste blogue.

E que verdade é essa?

A seguinte:

O principal problema da democracia portuguesa (como da brasileira) não é a corrupção dos políticos. O principal problema da democracia portuguesa (e da brasileira) é a Justiça.

Os políticos, a  começar pelos políticos corruptos, são investigados pela Justiça. Mas quem é que alguma vez investigou a Justiça?

Ninguém.

Ora, é isso que pode mudar com o escândalo em torno  do juiz Sérgio Moro.

1 comentário:

Noelson disse...

Pode ser verdade em Portugal. No Brasil, é só uma parte de um problema secular: a impunidade decorrente de um sistema legal, feito sob medida para proteger os donos do poder e punir a turma PPP (pobre, preto e puta). Quem faz as leis são os políticos; como se não bastasse, também eles escolhem a dedo os componentes dos tribunais superiores. Collor, nomeou o seu primo para o STF; FHC, nomeou o Gilmar Mendes; Lula nomeou, entre outros, o Toffoli (advogado do PT, duplamente reprovado no concurso público para juiz), o Lewandowski (filho de uma amiga da Dona Marisa) e o Joaquim Barbosa, que acabou se transformando no pesadelo petista.

Lula, um ignorante em história, queria ser o 1º presidente a nomear um negro para o STF. Seu conselheiro Frei Beto, nas viagens para o Rio de Janeiro, acabou conhecendo um procurador do MPF, com boa cultura e ótimo currículo, chamado Joaquim Barbosa. De origem humilde, entrou no MPF por concurso público, era negro e revelou-se eleitor do PT (capturado pelo discurso moralista do partido). Daí para o STF, foi um pulo. Por azar do PT, foi sorteado como relator do processo do Mensalão (escândalo motivado por disputa de cargos). Irritado por ter descoberto que fora nomeado por ser negro, enfiou petistas (ex-ministro José Dirceu) e aliados (deputado Roberto Jefferson) na cadeia. Apesar de ter livrado a cara do 'capo dei capi', prestou um memorável serviço ao país. Seguem links desse caso surreal da corruptocracia brasileira (valem cada segundo):

Mensalão (mala cheia): https://www.youtube.com/watch?v=gEbPE7i9mwk
Mensalão (cofrão): https://www.youtube.com/watch?v=6vgT_T38Hps
Bate boca no STF: https://www.youtube.com /watch?v=HooyxC4w2OI

Um caso sintomático dessa mancebia entre política e justiça, é a questão da prisão em segunda instância. Desde sempre, a turma PPP foi encarcerada independentemente de qualquer julgamento. A partir do momento em que os corruptos começaram a ser presos, o STF passou a questionar a legalidade da prisão em segunda instância. Alguns juízes, para proteger seus corruptos de estimação, desejam trancafiá-los somente após o trânsito em julgado, sinônimo para "prescrição".

O motivo principal do roubo das conversas, é criar um clima favorável para o julgamento dos recursos de Lula da Silva (existe uma maioria no STF disposta a libertá-lo). Sr Arroja, a sua esperança de mudanças no sistema brasileiro no curto prazo, por conta desses vazamentos, é infundada; no máximo, algum projeto para endurecer a penalização dos abusos de autoridade, com foco na Justiça ... e só.