29 junho 2019

Director do DIAP

O magistrado Y chegou ao escritório numa Terça de manhã, fez click sobre o endereço de internet,

portocanal.sapo.pt/noticia/60141/

e ficou ali, concentrado, à procura do crime. Chovia violentamente lá fora.

"Coitados dos rapazes da PJ que hoje têm de ir apanhar 37 membros dos Hell's Angels com este temporal...", pensou o magistrado Y, e a sua preocupação era genuína.

Durante os 14 minutos e 45 segundos que dura o vídeo, o magistrado Y ficou concentradíssimo à procura dos crimes. Chegado ao fim, fez um refresh e voltou ao princípio. Admirou o penteado do Juca Magalhães e pôs-se a pensar onde é que o arguido teria ido arranjar o dinheiro para ir passar uma semana à Grécia com a mulher.

E o bronze que o arguido exibia, seria natural ou fruto de alguma lavagem de dinheiro? Pelo sim pelo não, iria pedir à juíza de instrução que o pusesse sob escuta.

De repente, imobilizou o vídeo ao minuto 7:37. Estaria ali a prova do crime? E de que crime se tratava? Decidiu retroceder ao min. 5:24. Talvez estivesse ali o crime. Mas hesitou mais uma vez e avançou abruptamente para o min 13:34.

Ficou assim três dias e três noites, andando para trás e para a frente, escrutinando zelosamente cada segundo do vídeo.

Na sexta-feira ao meio dia deu o trabalho por concluído, porque os funcionários públicos não trabalham às sextas à tarde e ele tinha feito muitas horas extraordinárias por causa daquele vídeo.

Depois de tanto esforço, e depois de ver mil vezes o vídeo, o magistrado Y tinha encontrado dois crimes, um de difamação agravada e outro de ofensa a pessoa colectiva.


Caro leitor,

Se você fizer como o magistrado Y - pode ser com um vídeo da Cristina Ferreira -, examinando-o repetidamente até à exaustão, você pode tornar-se um polícia criminal como ele. Tem é de encontrar pelo menos um crime.

Se você fizer como o magistrado Y, pode mesmo chegar a Director do DIAP.

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