23 março 2019

Só uma

Quando, num dia da semana passada, o médico cardiologista, após fazer-me um exame às artérias coronárias, estando eu ainda deitado na marquesa, me pegou no braço e disse, calma mas firmemente: "O senhor teve muita sorte. A sua vida tem estado em grande perigo. O senhor já não pode sair daqui. Vai ter de ser operado imediatamente", eu reagi com calma.

Era um caso muito interessante. Eu já poderia ter morrido de ataque cardíaco e teria ido para a cova muito convencido de que era uma pessoa perfeitamente saudável.

Excepto, talvez, por umas dores no peito que vinha a sentir nos últimos dias sempre que fazia exercício físico (nos dias mais recentes, bastava caminhar), às quais não atribuí grande importância, sempre convencido que era uma espécie de atleta olímpico.

Mas a minha mulher atribuiu. E falou a um dos filhos que é médico e ao Joaquim, que também é. Foram eles que me pressionaram para ser examinado imediatamente e foi o Joaquim que me indicou o cardiologista.

Por isso, quando o Dr. Vasco Gama, que é assim que ele se chama, me transmitiu aquela mensagem, acrescentou: "Pode agradecer ao Dr. Sá Couto e ao seu filho por estar vivo". E eu pensei: "E à minha mulher também..." porque estamos em tempo de não se poder discriminar contra as mulheres e as meninas do Bloco de Esquerda às vezes andam por aqui à procura de um homem que possam meter na prisão.

Nessa tarde, já deitado numa cama da Casa de Saúde da Boavista, eu continuava a meditar sobre a ironia da situação, que era a de que eu já poderia estar morto, tendo ido para o outro mundo convencido que era um homem perfeitamente saudável.

Ora, quem morre assim de surpresa, e aparentemente saudável, deixa certamente muitas coisas por dizer. E, no meu caso, deixaria eu muitas coisas por dizer?

Não, surpreendentemente, não. Só consegui encontrar uma. A seguinte.

"Eu tenho uma grande convicção - adquirida durante o meu julgamento do ano passado - que a Cuatrecasas mexe fortes influências no Ministério Público do Porto e que, portanto, e pelo menos neste aspecto, o nosso sistema de Justiça não é um sistema limpo".

Era isto que eu teria levado comigo e que gostaria de ter exprimido. Não era muito nem era importante. Quanto ao resto, teria dito em vida tudo aquilo que tinha para dizer.

3 comentários:

dfrodrig disse...

Ainda bem que por cá continua, a desenterrar a Verdade!

as melhoras

José Lopes da Silva disse...

http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2012/04/nao-facam.html

http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2012/04/uma-grande-martelada.html

lusitânea disse...

Votos de melhoras.E recomendo que quanto ao resto desatasque-se deixe andar porque é uma luta desigual.O mal vai vencer