Mas que ideia de liberdade é essa que o liberalismo inglês trouxe para Portugal e que entrou em choque com a ideia de liberdade prevalecente entre os portugueses e que emana espontâneamente da sua cultura?
D. Manuel Clemente exprime-a assim referindo-se a Herculano:
"Mas [Herculano] não admitia que o movimento católico em Portugal pudesse incluir simultaneamente o apego à liberdade política e a adesão ao papado". (cf. aqui)
O liberalismo inglês não consegue compatibilizar a liberdade (política) com a obediência a uma autoridade pessoal, suprema e absoluta. A esta luz, liberalismo e catolicismo são incompatíveis.
Será assim?
Ou será antes que as ideias de liberdade de um inglês e de um português são diferentes e que, quando um fala de liberty (ou freedom), e o outro de liberdade, eles não se estão a referir à mesma coisa, mas a coisas diferentes?
Creio que é sobretudo este equívoco que ainda hoje está na base do confonto entre a liberdade protestante e a liberdade católica.
Quando um inglês, tocado pela cultura protestante, fala de liberty ou freedom, ele tem sobretudo no espírito a ideia de uma "liberdade de escolher". Ao passo que, quando um português, tocado pela sua cultura católica, fala de liberdade, ele tem sobretudo no espírito a ideia de um "Deixem-me em paz" (ou, em calão, de um "Não me chateem").
O inglês fala de uma liberdade que é sobretudo uma liberdade exterior, política e económica (Milton Friedman, o célebre economista liberal, tem mesmo um livro com o título "A Liberdade de Escolher"), ao passo que o português fala sobretudo de uma liberdade que é uma liberdade interior - uma liberdade de espírito.
O inglês sente-se livre quando pode escolher os seus governantes em eleições ou a sua cerveja no supermercado. O português sente-se livre quando não tem nada que o aborreça.
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