O grande conflito ideológico que o liberalismo britânico veio produzir em Portugal no século XIX centrava-se na figura do Papa. O liberalismo britânico não podia conceber uma sociedade livre obedecendo a uma autoridade pessoalizada, centralizada e forte.
Este conflito permaneceu para sempre, e não só com a figura do Papa, mas com todas as figuras que representassem uma autoridade pessoalizada, centralizada e forte.
É por isso com algum prazer que eu olho para um episódio na vida do grande teórico liberal F. A. Hayek. Foi no final dos anos 70, princípio dos anos 80, quando foi ao Chile e ficou embasbacado com o liberalismo e o dinamismo da economia chilena, sob o regime de Pinochet (cf. aqui). (O mesmo sucederia nessa altura com Milton Friedman)
Engasgou-se, deu explicações que não convenceram ninguém- como a de que, talvez, fosse às vezes necessário um regime autoritário como transição para uma sociedade liberal - mas nunca viria a descobrir o aparente paradoxo. Ficou literalmente aos papeis (cf. aqui).
Aproximou-se da solução quando, já próximo da sua morte, chamou a atenção para a importância da religião e teologia, e sobretudo da tradição, numa sociedade verdadeiramente livre.
Estava no bom caminho, mas já não teve tempo para o prosseguir.
E que caminho é esse?
O seguinte. A Tradição só a religião católica acredita nela como fonte da revelação, não as confissões protestantes. Para o os protestantes, Deus está apenas nas Escrituras (princípio Sola Scriptura), ao passo que, para o catolicismo, Deus está nas Escrituras e na Tradição.
Ora, o Chile é um país católico, e o catolicismo tem no topo uma autoridade pessoal, centralizada e forte. Não admira o liberalismo e o progresso que Hayek viu no Chile sob uma autoridade assim. Uma autoridade assim faz parte da Tradição chilena.
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