21 fevereiro 2019
500 anos
"Mas acresce uma coisa muito importante. Já que falamos de história, falemos de história. É que, antes deste nosso moderno Serviço Nacional de Saúde, já havia um anterior Serviço Social de Saúde (um SSS), com a velha idade de 500 anos. A «mãe» foi a Igreja Católica, e este serviço foi secularmente prestado pelas Misericórdias e outras instituições de assistência, numa rede que cobriu todo o País, e atingiu quase 400 Misericórdias. Era insuficiente. Pois era. Como ainda hoje o SNS é insuficiente. Mas na medida das forças económicas e financeiras do tempo, serviu igualmente os portugueses, por cinco séculos, com uma generosa solidariedade que pede meças ao burocratismo actual. Não pertencia ao Estado, não era político, nem era dependente das finanças públicas, embora pudesse ter recebido ajudas aliás justificadas. Mas existiu e funcionou, institucionalmente e de facto." (cf. aqui)
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2 comentários:
O Professor falou nos seus anteriores artigos da influência inglesa nos liberais do século XIX mas gostaria de fazer alguns reparos.
Por detrás da Reforma Protestante inglesa estavam as ideias puritanas. Haviam códigos morais exigentes que não existiam em Portugal. Por exemplo, as autoridades prendiam quem não trabalhava ou quem mendigava. Havia uma forte repressão sexual e no século XVII os puritanos até encerraram as tabernas e tentaram proibir o consumo de álcool. Além disso existia a ideia de dever perante a comunidade. É comum encontrar em Inglaterra hospitais, jardins, igrejas ou museus do século XIX que foram uma doação de algum homem rico à comunidade. Ora no Portuga católico não havia nada disto. Era muito comum o adultério nas nossas elites e visto como algo normal. O adultério dos homens, diga-se. Os estrangeiros ficavam admirados com a enorme quantidade de ociosos e mendigos que havia em Lisboa. Tínhamos a cultura marialva, dos diletantes boémios que não trabalhavam.
Então o que fez o liberalismo português? Com o seu profundo jacobinismo tirou a moral católica mas deixou um vazio. A moral católica não foi substituída por uma moral e religiosidade protestante. Ficou um vazio, tirou-se Deus e o Cristianismo. Os protestantes não tiraram Deus. Pelo contrário, tornaram a sociedade mais exigente em relação ao cumprimento das Escrituras. São Paulo diz que quem não trabalha não deve comer. O que faziam os protestantes? Punham na cadeia os ociosos. Cristo condena o adultério. O que faziam os protestantes? Uma enorme repressão sexual.
Depois existe outro elemento que o Professor esqueceu. Há duas Maçonarias radicalmente diferentes e opostas. Uma francesa, outra anglo-saxónica. Ora muitos dos nossos liberais eram maçons, mas do ramo francês. É o caso de Joaquim António de Aguiar, que ficou conhecido como o «mata-frades». Foi ele o responsável pela venda dos conventos, que se traduziu na maior destruição de património histórico e ambiental da nossa História. Este homem era maçom, mas do ramo francês.
Portanto, há um abismo enorme entre os nossos Liberais do século XIX e os protestantes das ilhas britânicas. É que os últimos não tiraram Deus nem a religião da política nem da comunidade. Pelo contrário, reforçaram a sua presença em alguns aspectos da vida pessoal e social.
Acrescento mais um facto.
Havia ideias liberais em Portugal no século XVIII e quem as tinha eram os Jesuítas. Os Jesuítas não só tinham ideias liberais como davam ensino gratuito e de grande qualidade a cerca de 20 mil estudantes. Mais. Os Jesuítas tinham no seu seio grandes humanistas e cientistas. Alguns eram cristãos-novos. E não gostavam da Inquisição. Como se sabe, o Marquês correu com eles de Portugal. O modelo do Marquês era outro. E é esse o modelo que ainda temos hoje em dia, obviamente adulterado. Pelo uso da força e da astúcia, o Marquês de Pombal venceu.
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