Tanto quanto pude investigar, descendo de uma família espanhola e judaica que se refugiou em Portugal depois da expulsão dos judeus decretada pelos Reis Católicos de Espanha, Fernando e Isabel, em 1492.
Juntamente com outras famílias com a mesma origem, acabou por se fixar numa aldeia escondida e abrigada, junto à Serra de Montejunto, chamada Cabanas do Chão, que fica na freguesia com o sugestivo nome de Abrigada, concelho de Alenquer, ali mesmo a 70 quilómetros de Lisboa (cf. aqui).
Não por acaso, Cabanas do Chão conheceu, em termos percentuais, um crescimento populacional explosivo entre 1497 e 1527, de três para 21 famílias - um aumento de 600% que, obviamente, nunca mais voltaria a repetir na sua história. A família Arroja estava lá a contribuir para o fenómeno.
Hoje, Cabanas do Chão não terá mais do que 500 a 600 habitantes. Para quem não conheça a sua história, ficará talvez surpreendido, ao visitá-la, pela importância que Espanha tem na vida e na tradição desta pequena aldeia.
A rua principal chama-se Rua de Espanha e, a poucos metros, encontra-se uma travessa, que se chama Travessa de Espanha. E quem inquirir pelo seu Santo Padroeiro, volta a encontrar-se com Espanha. É Lorenzo de Huesca, ou S. Lourenço, um santo espanhol nascido na região de Valência.
Foi em Cabanas do Chão que os Arrojas se reproduziram ao longo dos séculos seguintes, convertendo-se ao cristianismo e fazendo parte daqueles que, em Portugal, a certa altura ficaram conhecidos por "cristãos-novos".
O meu avô paterno nasceu em Cabanas do Chão, numa família de sete irmãos onde ele era o mais novo e o único homem, numa altura em que competia aos homens trabalhar para sustentar as mulheres da família. Ainda novo foi trabalhar para Lisboa, passou a vida como funcionário da Alfândega, e aí conheceu uma jovem ribatejana (Vila Moreira, Torres Novas) que também tinha ido viver para Lisboa.
Casaram, foram muito felizes, tiveram quatro filhos, duas raparigas e dois rapazes, e o meu pai era o mais novo de todos. Por essa altura, os Arrojas, que tinham vindo de Espanha quatro séculos antes, acabavam de invadir Lisboa.
O meu pai replicou o número de filhos da sua família de origem, mas não conseguiu diversificar os sexos, e eu sou o segundo dos seus quatro rapazes. Os meus irmãos permaneceram em Lisboa, mas eu, por circunstâncias que só Deus sabe explicar, acabei por vir viver para o Porto.
Repliquei o número de filhos que é tradição na família - quatro, uma tradição que o meu filho mais velho, entretanto, já continuou. E tal como o meu avô, os sexos são repartidos, dois rapazes e duas raparigas - uma repartição que o meu primeiro filho mantém.
Os meus filhos nasceram no Porto - salvo os dois do meio que nasceram em Ottawa, no Canadá, durante um interregno em que lá vivi - mas todos são portuenses do coração. A maior parte dos meus sete netos também é do Porto, e existe um que tem mesmo o nome do Santo Padroeiro da cidade - é o Joãozinho, que até nasceu no Hospital de São João no ano em que eu me tornei Presidente da Associação Joãozinho (2014).
E foi assim que os Arrojas, depois de invadirem Portugal há cinco séculos atrás, tendo conquistado Lisboa ao quarto, conquistaram a cidade do Porto ao quinto. Pode dizer-se que, por esta altura, com as duas principais cidades do país na mão, eles quase tinham conquistado Portugal inteiro. Já não faltava tudo.
Dei liberdade de escolha aos meus filhos no que respeita ao clube de futebol, uma liberdade que o meu pai nunca me deu a mim. São todos do F.C. Porto, excepto um, que é do Sporting. E nesta família unida em todos os aspectos excepto num, aquilo que mais me custa é ser o único lampião entre muitos dragões fervorosos e um lagarto invariavelmente desiludido.
O meu nome tem, naturalmente, origem espanhola, pronunciando-se o jota em castelhano com aquela tonalidade que, em português, faz soar a guê - Arroga.
Diz-se, por vezes, que, com a idade, uma homem tende a voltar às suas origens, e eu sinto isso na pele. Daí talvez a minha aproximação nos últimos anos à sociedade de advogados Cuatrecasas. Afinal, Valência, a região de onde mais provavelmente provêm os Arrogas, não fica assim tão longe de Barcelona, a cidade de onde provém a Cuatrecasas.
Até que, há duas semanas atrás, estando eu muito tranquilo e satisfeito por ter protagonizado a invasão da cidade do Porto pelos Arrogas - e em vésperas de entrar oficialmente na terceira idade - um jornal de província veio desencadear uma guerra que eu não esperava entre o Governo português e a minha própria pessoa. Tudo por causa de uma figura quase mítica que dá pelo nome de Juanito.
Até a imprensa internacional já fala no assunto, às vezes com pretensões em castelhano - "Gobierno vs. Arroga". Achei que era uma oportunidade épica a não perder.
Ganha de certeza o Arroga. Os Arrogas conquistam finalmente Portugal inteiro, a Espanha volta a dominar Portugal, e os judeus prevalecem outra vez sobre os cristãos. Uma conspiração de Bilderberg.
2 comentários:
Bienvenido mi hermano.
Gracias, hermano.
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