27 novembro 2018

As fake news do JN

Este artigo é acerca das fake news do JN sobre a construção da ala pediátrica do HSJ.

Não pretendo ser exaustivo, mas apenas transmitir o sabor. Utilizarei, para tanto, as notícias do JN referidas numa série de posts anteriores.

Uma explicação prévia é necessária. Para que o Estado possa construir a ala pediátrica do HSJ, tem de cumprir quatro grandes procedimentos:

(i) Dispor de um projecto de arquitectura e engenharia (Já existe. Tem data de Julho/2012).
(ii) Orçamentar a obra e inscrevê-la no Orçamento do Estado (um procedimento que pode demorar até um ano, visto que os OE's são anuais).
iii) Lançar um concurso público internacional (correndo tudo bem, pode demorar um ano. A lei europeia não permite o ajuste directo para esta obra).
iv) Executar a empreitada (tempo previsto: 2 a 3 anos)

Quem ler as notícias que desde Abril o JN tem publicado sobre este tema vai começar por encontrar o Ministro da Saúde, nesse mês, a anunciar que a obra estará concluída em dois anos (cf. aqui). Trata-se de uma mentira óbvia. A obra não estava sequer no OE nem tinha havido concurso para ela. Não obstante, o JN publicou a mentira.

A última notícia publicada pelo JN sobre o assunto é da semana passada e, nela, o Primeiro-Ministro diz que o projecto de arquitectura e engenharia está em revisão, e só estará pronto em Junho (cf. aqui). Quer dizer, neste espaço de tempo - Abril a Novembro -, e depois de muitas notícias do JN a sugerir o contrário, a construção da ala pediátrica do HSJ, tantas vezes prometida,  não ficou mais perto, ficou mais longe. Em Abril, havia projecto aprovado, agora nem isso.

A notícia do deputado Fernando Jesus, em representação da bancada do PS, a anunciar em Outubro  no Parlamento que a obra começa em Janeiro (cf. aqui),  essa então, é uma requintada mentira. Mas o JN publica.

A notícia dada pelo Ministro da Saúde - e propalada depois pelo presidente do Hospital - de que o HSJ já tinha o dinheiro para fazer a obra é uma das mais divertidas mentiras e, como tal, mereceu honras de primeira página no JN (cf. aqui). O dinheiro para a obra nem sequer estava orçamentado pelo Ministério das Finanças, quanto mais no HSJ.

O pior é que, com base nesta mentira, o director do JN fez um artigo de opinião sobre a ala pediátrica do HSJ (cf. aqui). Só podia estar a falar de chacha.

A notícia da cerimónia realizada no HSJ no Dia Mundial da Criança de 2017 (cf. aqui) em que três funcionários públicos (um deles, a actual Ministra da Saúde) se reúnem e assinam um papel onde decidem fazer a obra e até fazem o escalonamento do seu pagamento em três anos, ultrapassa o estatuto da mentira porque é, na realidade, uma grande fantochada. Porquê? Porque nenhum daqueles funcionários tem poder para decidir sobre obras públicas e para mobilizar o dinheiro do Estado para as pagar.

Volta-não-volta, o presidente do HSJ  vem a público dizer que se demite dentro de dias se o Governo não lhe der condições para fazer a ala pediátrica do HSJ. É sempre mentira. A última foi em Julho, a penúltima tinha sido em Abril. Mas o JN publica sempre a mentira (cf. aqui). É preciso persistência.

É pior do que isso. O presidente do Hospital que diga qualquer mentira que o JN publica de certeza (cf. aqui). Na realidade, é ainda muito pior do que pior que isso: desde que venha do Governo (do qual depende a administração do HSJ), mentira proclamada é mentira publicada pelo JN (cf. aqui).

Existe uma constante nas fake news do JN sobre este assunto. Os governantes aparecem sempre bem - o Primeiro-Ministro, o(a) Ministro(a), o presidente do Hospital - , dando a sensação de que estão a trabalhar para o bem-comum e a resolver o problema das crianças internadas no HSJ.

Na realidade, é tudo mentira.

Não é demais insistir: entre Abril e Novembro, a despeito de todas as mentiras veiculadas pelo JN - ou talvez por causa delas - a construção da ala pediátrica do HSJ não ficou mais próxima. Ficou mais longínqua.

O leitor do JN compra o jornal certamente na expectativa de receber informações fidedignas. Na realidade, recebe mentiras e propaganda política.

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