Parece agora claro que o Governo não está nada interessado em fazer a nova ala pediátrica do HSJ. Nem em a deixar fazer.
O despacho publicado anteontem (cf. aqui) não é sequer um passo em frente. É um passo atrás. Deita-se fora o projecto de arquitectura existente, que tem apenas seis anos e custou 700 mil euros ao erário público, e lança-se concurso público para fazer novo projecto.
Até que o novo projecto de arquitectura esteja pronto vão decorrer pelo menos três anos. É claro que as sociedades de advogados existem para lançar concursos públicos e as sociedades de arquitectura para fazerem projectos. E não fica excluída sequer a possibilidade de este novo projecto um dia ser deitado ao lixo com a mesma ligeireza com que agora foi o actual.
Mais problemática é a interpretação a dar às posições que vêm sendo assumidas pelo presidente do HSJ.
Em finais de Abril, quando rebentou o escândalo sobre as condições de internamento pediátrico no HSJ, o presidente declarou ao Expresso que iria de férias e que, no regresso, se não houvesse autorização das Finanças para utilizar o dinheiro (19,8 milhões) que já possuía na conta do Hospital para realizar a obra, se demitiria.
O prazo passou, a autorização não veio, e não se demitiu.
No final de Julho voltou a ameaçar demitir-se se, no prazo de um mês, não chegasse a autorização das Finanças.
O prazo esgotou-se a 27 de Agosto, a autorização não chegou, e não se demitiu.
O desfecho é ainda mais surpreendente. A quem tanto queria a autorização para utilizar o dinheiro que dizia possuir para fazer imediatamente a ala pediátrica do Hospital - e estava pronto a demitir-se por causa isso -, o Governo veio agora, em lugar da autorização, dar-lhe um despacho que não lhe permite utilizar dinheiro nenhum (o qual, sabe-se agora, aparentemente nunca existiu) e que, na realidade, faz regressar todo o projecto da ala pediátrica à estaca zero.
E como é que ele reagiu?
Assim:
"É um dia de imenso júbilo para nós, para os profissionais e para as crianças e os seus familiares".
(JN de hoje, p. 24).
É difícil compreender esta reacção. Muito difícil.
O presidente do Hospital, que foi nomeado pelo Governo e depende da confiança política do Governo, parece querer tanto quanto o Governo fazer a ala pediátrica. E igualmente como o Governo, não a faz nem a deixar fazer.
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