Eu não posso senão ser um grande apoiante da iniciativa dos cidadãos que esta semana subscreveram um abaixo assinado em favor da construção da ala pediátrica do HSJ (cf. aqui).
Não é certo a quem se dirige o abaixo-assinado mas parece ser, genericamente, às autoridades do país. Porém, em declarações à comunicação social, alguns subscritores parecem falar de dinheiro público e apontar a responsabilidade da situação ao Ministério das Finanças.
Ora, eu gostaria de vir em defesa das Finanças e expor aquilo que entendo ser a sua posição face à ala pediátrica do HSJ. E falo com conhecimento de causa porque discuti o assunto no Ministério em Maio passado. Faço-o porque me dá a sensação de que se está a diabolizar injustamente o Ministro das Finanças e o seu Ministério acerca deste assunto.
É a seguinte:
1) O Orçamento do Estado para a Saúde não chega para a necessidades do país e todos os anos é largamente excedido. A construção da ala pediátrica do HSJ é importante. Mas será uma prioridade nacional?
Não, não é. Acaba de ser inaugurado (2017) na cidade do Porto o Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN) que é, por assim dizer, a ala pediátrica do Hospital de S. António. A cidade do Porto dispõe de camas pediátricas suficientes para as necessidades. Se as crianças não podem ser atendidas em condições decentes no HSJ, que sejam transferidas para o CMIN, que possui instalações novíssimas. E, quanto às crianças sofrendo de doença oncológica, que sejam transferidas para o IPO, que fica mesmo do outro lado da rua.
2) Além disso, a administração do HSJ tem um contrato firmado com a Associação Humanitária "Um Lugar para o Joãozinho", perante quem se comprometeu a ceder o espaço da obra para que esta lhe seja dada por via mecenática (um contrato que não está a cumprir, porque o espaço continua parcialmente ocupado com o Serviço de Sangue, estando a obra parada há dois anos e meio).
Ora, se a administração do HSJ tem quem lhe ofereça a obra de graça, por que há-de ser o Estado a pagá-la, numa altura em que as condições são calamitosas em outros hospitais do país (V.N. Gaia, Faro, São José, etc.) e a merecer muito maior prioridade por parte dos dinheiros públicos?
A menos que seja para seguir o exemplo do CMIN.
O projecto do CMIN teve início em 1982 e só foi concluído em 2017. Demorou 35 anos a fazer. O orçamento inicial era de 8 milhões de euros (1.6 milhões de contos na moeda antiga). Acabou a custar 60 milhões de euros aos contribuintes.
É para isto?
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