14 junho 2018

preferia a minha

Logo na primeira sessão do julgamento, e antes de iniciar o interrogatório que me fez, o juiz disse-me que gostava de se pôr na posição do réu para poder julgar melhor.

Foi uma afirmação genuína e que eu gostei de ouvir.

Agora, que o julgamento terminou e a sentença está proferida, decidi que seria a altura de lhe retribuir. E ontem passei uma boa parte do dia a tentar pôr-me na pele dele.

Ao fazê-lo, a primeira conclusão a que cheguei foi a de que era muito mais difícil eu pôr-me na pele dele do que ele na minha.

E horas depois concluí o exercício chegando à conclusão que não queria estar na pele dele.

Preferia a minha, de réu.

2 comentários:

José Lopes da Silva disse...

O facto é que a figura do intelectual "de blogues", ainda que assuma querer chegar à Verdade, raramente é imparcial - ou precisamente por causa disso, por quem procura a Verdade tem dificuldade em chegar à Justiça...?

...talvez esse papel seja mais próximo da figura de pai do que da de intelectual "de blogues".

Anónimo disse...

Vai mais uma de erudição:
André Gide: Confia naqueles que procuram a verdade mas desconfia daqueles que a encontram.