III. Sim, sim, sim...Sim, sim, sim...
As testemunhas não podem assistir ao julgamento. De maneira que eu vou contar para o Dr. Avides Moreira para sua ilustração, e para os outros leitores deste blogue, como foi a parte final do depoimento do Dr. João Oliveira.
Depois daquele golpe decisivo, a advogada e ele voltaram a sentar-se e o interrogatório prosseguiu. Via-se na expressão dele que estava totalmente desconcentrado.
A advogada dirigiu-lhe, então, nova pergunta. Mas, mal tinha pronunciado as primeiras palavras, já ele acenava com a cabeça e respondia:
-Sim, sim, sim...Sim, sim, sim...
Outra pergunta, que ainda estava meramente nas palavras iniciais, e ele:
-Sim, sim, sim...Sim, sim, sim...
Mais outra pergunta, pareciam agora todas inocentes. Ele não parava de acenar com a cabeça, ao mesmo tempo que dizia:
-Sim, sim, sim...Sim, sim, sim...
Parecia agora um combate de boxe em que um dos lutadores já está no chão e o outro continua a bater-lhe.
O juiz teve de intervir para lhe pôr a mão por baixo. Levantou os braços e disse:
-O senhor está aí a responder sim, sim, sim...sim, sim, sim... Pense!...Prefiro que não responda do que esteja aí a responder sim, sim sim...sim, sim, sim...
Por um momento, ele recompôs-se. Mas não durou muito. Não conseguia atinar com qualquer resposta, já nem com as perguntas.
A advogada fez-lhe uma nova pergunta e ele não compreendeu. Voltou a fazê-la mas ele, com um ar de total incompreensão, já estava incapaz de racionalizar o que quer que fosse.
O juiz teve de intervir outra vez. Refez a pergunta da advogada, e ele lá disse alguma coisa.
Depois, o juiz voltou-se para a advogada, como que a justificar a sua intervenção:
-É que a senhora doutora é muito...cirúrgica!...
Cirúrgica. Cirúrgica era a palavra adequada. É uma palavra que sugere agulhas, bisturis, pequenas facas eximiamente afiadas.
Porque é disso que eu vou falar a seguir. Sempre para ilustração do Dr. Avides Moreira.
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