Eu tenho às vezes uma relação um pouco turbulenta com a minha própria advogada, embora tenha grande apreço pelo trabalho que ela está a fazer. Está muito bem preparada, é certeira e frequentemente letal. As divergências são por outras questões.
Aconteceu há dias quando preparávamos uma sessão do julgamento. Eu pronunciei um comentário depreciativo sobre o advogado de acusação neste processo, o Dr. Adriano Encarnação, e ela reagiu indignada. Que não, que não, que o colega estava ali a fazer o seu trabalho...
Trabalho!?
Foi sobre o significado da palavra trabalho em relação com aquilo que o Dr. Adriano Encarnação está a fazer que se gerou o nosso desentendimento.
Aquilo não é trabalho nenhum. Aquilo é crime. Acusar uma pessoa inocente não é trabalho. É crime. O crime de calúnia. Aquilo que ele está a fazer é um crime - e é assim que eu olho para ele.
Um homem que entrou no tribunal para me acusar sem estar minimamente preparado para o fazer, sem sequer ter estudado o processo; um homem que, à medida que o julgamento decorre, mais se lhe há-de tornar evidente que, se algum crime houve, ele foi cometido pelos acusadores que ele representa; um homem que anda agora literalmente às aranhas, porque tem um "criminoso" pela frente, e cada vez menos vislumbra a possibilidade de lhe encontrar o crime; este homem, não está a trabalhar.
Está a cometer um crime.
Um motorista que conduz deliberadamente o autocarro por uma ribanceira abaixo, não está a trabalhar. Está a cometer um crime. O mesmo para o piloto que estatela propositadamente o avião no solo, ou para o contabilista que falsifica as contas da empresa. É crime, não é trabalho.
Por que é que havia de ser diferente para os advogados?
Existe apenas uma diferença. É que o motorista, o piloto e o contabilista, no caso de sobreviverem aos crimes que cometeram, vão ter de responder por eles perante a justiça.
Ao passo que os advogados gozam de um estatuto de imunidade.
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