Um dia uma filha minha, que tinha então uns 11 ou 12 anos, foi apanhada a fumar escondida entre os arbustos do recreio do colégio, juntamente com uma amiga da mesma idade.
O colégio era de freiras que mantinham uma disciplina estrita. A freira que descobriu o delito telefonou prontamente à mãe da fumadora furtiva, a qual teve de comparecer imediatamente no local para ouvir a queixa em versão completa e dar o primeiro ralhete à filha in loco.
À noite seria a minha vez. A arguida - que é assim que eu agora me refiro a quem está indiciado por algum crime - estava sentada à minha direita, à mesa do jantar. Reinava o silêncio na sala, todos com cara de caso, à espera que eu abrisse a boca.
Foi então que resolvi falar para arrumar de vez com o assunto:
Olha... eu estou zangado contigo não por tu teres fumado... porque isso ... eu também fumava às escondidas dos meus pais quando tinha a tua idade...A diferença é que eu nunca fui apanhado...os meus pais nunca foram chamados à escola por eu ter sido apanhado a fumar...Agora tu ...incomodaste a tua mãe que foi chamada ao colégio... tu és uma fumadora furtiva incompetente...deixaste-te apanhar... e é isso que me aborrece...seres uma incompetente!...
Nos anos que se seguiram, ela deve ter continuado a fumar furtivamente e às escondidas dos pais. Mas nunca mais foi apanhada.
É a incompetência - e, para além disso, a reincidência - que hoje me aborrecem no Secretário de Estado da Saúde Fernando Araújo. Já há um ano, ele tinha sido apanhado a mentir (cf. aqui, cap. 68). É um mentiroso incompetente - pensei na altura -, relembrando o episódio da minha filha. Apanha-se facilmente.
Ao vê-lo ontem na TV, disse para comigo: "É ainda mais do que eu pensava. Não é apenas um mentiroso incompetente. É também reincidente."
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