08 outubro 2017

de meios

A democracia partidária é um regime político de meios, não de fins. Trata-se de um regime político que define um conjunto de regras - um enquadramento - dentro do qual cada pessoa, sozinha ou em grupo, é livre de definir os fins que se propõe atingir na vida, e prossegui-los.

É ao contrário o regime político que emana da Igreja Católica - em reacção ao qual o anterior surgiu - e que tem como arquétipo precisamente a organização política do Estado do Vaticano. Este é um regime político de fins - o Bem, a Verdade, a Vida, a Justiça, etc., que são as várias manifestações de Deus. Neste regime existe um homem que, em cada momento e em cada circunstância, interpreta estes valores e os impõe à comunidade.

(É preciso salientar que mesmo neste regime, a adesão à comunidade é voluntária e, por isso, a Igreja sempre se opôs ao esmagamento das comunidades nacionais que resultaram da emergência do Estado-nação a partir do século XVI)

A Espanha viveu quase toda a sua história sob este último regime. Mas já não vive. Vive em democracia partidária e, sob este regime, os catalães têm toda a legitimidade para decidirem viver de forma independente do resto de Espanha e ninguém tem que se lhes meter no caminho.

Que o façam através de um referendo é uma homenagem que eles prestam à democracia já que a esmagadora maioria dos países independentes que hoje existem no mundo não o fizeram por via democrática e referendária (v.g., Portugal).

O primeiro-ministro Mariano Rajoy - suportado por aqueles que o apoiam - deve julgar que é um rei absoluto ou um Franco. Mas não é. As regras do jogo agora são outras. Ele ainda não meteu isso na cabeça e ainda acabará a gerar violência.


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