Um dos maiores choques culturais que tive quando fui viver para o Canadá aconteceu logo no segundo ano quando, em 1980, foi organizado um referendo sobre a independência do Québec.
Existiam algumas semelhanças com a situação da Catalunha de hoje. Também no Governo Provincial do Québec estava um partido independentista, o Parti Québecois. No Governo Federal em Ottawa estava o Partido Liberal (centro-esquerda) do primeiro-ministro Pierre Trudeau, pai do actual primeiro-ministro canadiano.
E o que é que mais me impressionou?
A urbanidade de comportamento de todos os canadianos perante a decisão que iria ser tomada no Québec, que é a maior província do Canadá representando mais de um terço da sua população.
A atitude era: "Decidam lá isso e far-se-á de acordo com a vossa vontade".
E o que é que me chocou?
Eu próprio quando me pus a questão: "Se isto fosse em Portugal e a Madeira, por exemplo, quisesse organizar um referendo sobre a independência, o que é que aconteceria?"
A resposta veio pronta, e era uma resposta que eu próprio subscreveria na altura: "O Governo de Lisboa mandava para lá as tropas".
Como explicar a diferença de atitudes?
Era uma diferença cultural. Eu vinha de um país com uma cultura absolutista de muitos séculos e a maior parte da minha própria vida, na altura, tinha sido passada sob um regime político que tinha muito de absolutista.
Os canadianos, pelo contrário, pertenciam a um país que já nascera democrático e que herdara da nação-mãe - a Grã-Bretanha - uma tradição democrática de séculos.
Acabei por me render à evidência. Democracia, no caso concreto, era aquilo que eu via, e não aquilo que eu pensava.
Foi uma lição que, quase quarenta anos depois, o primeiro-ministro Mariano Rajoy parece nunca ter aprendido. É que ele está pronto a mandar as tropas para a Catalunha.
Vai-lhe sair mal. A independência da Catalunha é agora inevitável. Nada a pode parar - excepto o fim da democracia e o regresso do absolutismo.
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