Estávamos agora no início de Outubro. Tinham passado sete meses sobre a data de 3 de Março que eu tinha previsto para o início efectivo da obra, e quase seis sobre o dia em que aos camiões da Lucios e da Somague foi barrada a entrada no Hospital para a instalação do estaleiro da obra.
Tinha sido um ano misto. Se o ano anterior tinha sido perfeito, em que todo o trabalho da Associação Joãozinho tinha representado um progresso em direcção ao objectivo final - a construção da ala pediátrica do HSJ -, neste ano de 2015, pelo contrário, eu tinha gasto o melhor do meu tempo e do meu esforço a vencer obstáculos. Primeiro, a Teixeira Duarte, depois a Cuatrecasas, a seguir o Tribunal de Contas.
O grande avanço do ano tinha sido o dossier Continente, mais os acordos de mecenato que entretanto ia assinando e que resultavam do meu trabalho do ano anterior. O Jantar de Gala no Dragão também tinha sido um grande sucesso. No Porto Canal, às segundas-feiras, eu continuava a falar frequentemente sobre o Joãozinho.
Mas o clima de opinião acerca da obra que se ia instalando no HSJ, e que tinha origem na sua administração, deteriorava-se rapidamente. Já no início do Verão tinha tomado conhecimento de que por lá circulava a palavra de ordem "Temos de pôr o Pedro Arroja fora da Associação". A um nível hierárquico mais baixo, as relações de cooperação entre as pessoas ligadas à Associação e alguns funcionários do HSJ eram cada vez mais difíceis.
A Associação Joãozinho, aos olhos da administração do HSJ, tinha-se tornado um intruso - e um intruso indesejável como são todos os intrusos. Um dia, ao conversar com uma jornalista que acompanhava o Joãozinho desde o seu nascimento em 2009, ela disse-me que tinha estado a falar com o director de comunicação do HSJ, que era um seu antigo colega jornalista, e que ele lhe disse claramente que o HSJ não queria a obra.
E, tendo-lhe ela perguntado, o que é que a Associação iria então fazer ao dinheiro que tinha recebido dos mecenas, ele respondeu:
-Que o devolva aos mecenas...
Não desanimei e procurei racionalizar as coisas. Embora a pedido da administração do HSJ, no fim de contas eu estava a fazer aquela obra para as crianças internadas no HSJ - crianças presentes e futuras e para as mães que as acompanhavam. Eu não estava a fazer aquela obra para os administradores do HSJ. E se eles agora não a queriam... pois bem... era tarde. Iriam ter de a engolir, nem que lhes fosse metida pelas goelas abaixo. A obra era para as crianças e não para eles.
Agora que, finalmente, o caminho estava livre, havia que marcar uma nova data para o início da obra. As construtoras tinham já desfeito as equipas que seis meses antes estavam prontas para os primeiros trabalhos, que eram trabalhos de demolição das construções antigas existentes no local onde o novo edifício iria ser construído.
Sugeri a data de 2 de Novembro que foi aceite pelas construtoras e pelo HSJ. Mas nunca revelei a razão, nem isso era importante. Era a data do aniversário de uma das grandes mecenas do Joãozinho - não em dinheiro, mas em trabalho e nas responsabilidades que assumiu por ele - e era um pequeno reconhecimento que eu lhe prestaria nesse dia.
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