03 setembro 2017

de todas as cores

Saí do Ministério da Saúde directo para a Assembleia da República. Tinha uma reunião marcada com a deputada Luísa Salgueiro, presidente da Comissão Parlamentar do PS para a Saúde.

Meses antes, eu tinha estado com a deputada Luísa Salgueiro no meu escritório, no Porto. Ela era uma grande amiga do Joãozinho, conhecia muito bem as condições do internamento pediátrico no HSJ porque já lá tinha tido um filho.

Era a segunda vez em quinze dias que eu ia ao Parlamento para tratar do mesmo assunto. Tinha lá estado antes com o Dr. Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, que me recebeu acompanhado do deputado Miguel Santos, presidente da Comissão Parlamentar para a Saúde do mesmo partido.

Eu ia pedir que fosse feita uma pequena alteração à lei das IPSS's segundo a qual, em obras feitas por estas instituições, que fossem doadas ao Estado, o reembolso do IVA fosse total, e não apenas de 50% como a lei presentemente estipulava. Responderam-me que para o PSD o assunto era pacífico, mas sugeriram-me que fosse falar com o PS que era agora governo.

E era isso que eu ia fazer naquele dia. Subi ao segundo andar e mandaram-me entrar para uma sala muito grande, com mesas corridas à volta de todo o seu perímetro. Imaginei que era a sala onde se reuniam os grupos parlamentares dos maiores partidos. No topo da sala, estavam cinco cadeiras de costas para a parede e, do outro lado da mesa, ao centro, uma cadeira apenas.

Esperei até que entrou a deputada Luísa Salgueiro que me cumprimentou e me mandou sentar naquela cadeira. Ela vinha acompanhada de mais quatro deputadas que se sentaram do outro lado da mesa. Eu ia na expectativa de ser recebido apenas por ela mas, de súbito, e perante aquele aparato, tive o sentimento  de que ia ser julgado.

E não me enganei.

Sentada no extremo da mesa, do meu lado esquerdo, a deputada Elsa Pais desencadeou as hostilidades:

-Que as minhas opiniões sobre o casamento entre homossexuais e sobre a adopção por casais do mesmo sexo...

Eu ainda me procurei defender, dizendo que ia ali para tratar do IVA do Joãozinho. Mas mal eu esboçava a minha defesa, já outra deputada se atirava a mim:

-Que as minhas opiniões sobre as deputadas do BE não ajudavam nada o Joãozinho...

Eu ia a dizer que uma coisa não tinha nada a ver com a outra,  que estava ali como presidente da Associação Joãozinho e não como comentador televisivo, mas nem tive tempo de acabar a frase, porque já outra deputada no outro extremo da mesa se lançava sobre mim por outra opinião qualquer.

A única que não falou foi a deputada Isabel Moreira. Foi a última a sentar-se, esteve ali quatro ou cinco minutos a olhar fixamente para mim, enquanto eu balbuciava uma defesa à esquerda e depois outra à direita, sem qualquer possibilidade de êxito. De repente, levantou-se, lançou-me um olhar de profundo desprezo, virou as costas e foi-se embora.

Durante quinze minutos, pelo menos, eu estive ali a apanhar de todos os lados, de todas as maneiras e de todos os feitios, e a vê-las de todas as cores. Quando os ânimos serenaram, e eu me recompus, passámos ao assunto que me tinha levado ali. No fim, a deputada Luísa Salgueiro disse-me que iriam procurar introduzir a alteração legislativa já no próximo Orçamento do Estado.

Tinha sido um dia cheio de emoções.

Quando regressei ao Porto, escrevi este e-mail aos meus colegas da Associação para lhes dar informação:


"Somente para vos informar que a minha reunião de hoje com o Secretário de Estado da Saúde, Dr. Manuel Delgado, foi um êxito total.

Levava dois pontos na agenda:

1) Retoma dos trabalhos de desimpedimento do espaço por parte do HSJ para que possamos continuar a obra;
2) Luz verde para a Operação Continente que permitirá pagar mais de metade do hospital pediátrico.

Em seguida fui recebido na Assembleia da República pela comissão parlamentar do PS para a saúde (cinco deputadas), presidida pela deputada Luísa Salgueiro, onde fui tratar da isenção total do IVA para esta obra. Outro êxito pleno. Fizeram-me muitas perguntas sobre a obra (algumas já a conheciam) e notei que é uma obra que o Governo considera muito sensível e que apadrinha fortemente.
Estou muito satisfeito."

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