Nessa manhã, eu estava na sede da Apifarma, a poderosa associação da indústria farmacêutica, uma bela moradia no Restelo com vista sobre o Tejo. Estava uma linda manhã de sol e eu falava com o presidente.
Já o tinha convencido, mas, sem querer, coloquei-lhe um problema nas mãos. As posições públicas do Professor António Ferreira não ajudavam - mas que eu compreendia perfeitamente porque seria capaz de fazer igual - e o Hospital de S. João também não.
Cedo me apercebi que o HSJ tinha a reputação de ser um Hospital duríssimo nas negociações com os fornecedores. E isso eu também apreciava e faria de modo igual. Sendo o segundo maior hospital do país, e gerindo um orçamento de 350 milhões de euros ao ano, a administração do HSJ tinha a possibilidade de torcer o braço a muitos fornecedores. E isso eles não gostavam.
Procurei ajudá-lo, dizendo que eu não estava ali ao serviço do Professor António Ferreira nem do HSJ. Se fosse a título profissional, eu cobraria muitos milhares de euros ao mês pelo trabalho que estava a fazer, e não estava nada certo que, por essa via, o conseguisse fazer.
A Associação Joãozinho era independente do HSJ, e eu do Professor António Ferreira. Trabalhávamos os dois para um fim comum - a nova ala pediátrica do HSJ, que vários governos prometeram e que nunca foi feita. As crianças é que não tinham de sofrer as consequências da incúria do Estado e das lógicas partidárias. As crianças não davam votos, muito menos crianças doentes. Era por isso que eu estava ali - ou melhor, também por isso.
Quando saí, conduzi o carro junto ao mar até à Cruz Quebrada, onde entrei na A5, depois na CREL até Loures. Estava agora no meu caminho preferido para o Porto, evitando a A1. Dali seguia pela A8 até à Marinha Grande, depois pela A17 - para mim, a melhor e a mais bela auto-estrada do país - até Aveiro, depois um pequeno troço da A25 até Estarreja, e finalmente a A29 até ao Porto.
O carro tinha onze anos e conhecia perfeitamente o caminho. Por isso, vim a pensar na conversa. Eu próprio já me conhecia há muito. Os meus melhores momentos para pensar eram a conduzir um automóvel na auto-estrada ou a fazer jogging ao ar livre. Pensamento em movimento.
E, a meio da viagem, acabaria por concluir que não tinha sido perfeitamente exacto perante o presidente da Apifarma quando referi a independência da Associação Joãozinho em relação ao Hospital de S. João.
No acto de constituição da Associação, que teve lugar no gabinete do presidente do HSJ, e perante um notário, estiveram presentes, como sócios fundadores, os cinco administradores do HSJ, a assessora do presidente, o director da Faculdade de Medicina que funciona em cooperação com o HSJ, e ainda o próprio HSJ, como sócio corporativo. Pessoas exteriores ao HSJ eram apenas quatro - eu, uma colaboradora minha de há mais de vinte anos, e mais duas pessoas.
A direcção da Associação ficou constituída por cinco membros, três executivos e dois não-executivos. Como executivos eu, a presidente, a minha colaboradora a quem imediatamente destinei o lugar de Tesoureira - para guardar dinheiro destinado a crianças não há como uma mulher, de preferência que seja mãe, e ela reunia as duas condições - e a assessora do presidente do HSJ, como vogal. Os dois membros não-executivos eram administradores do HSJ, entre eles, o presidente.
A questão que me ocorreu ao espírito, enquanto conduzia, era a seguinte: se algum dia surgisse um diferendo entre a direcção da Associação, a que eu presidia, e o HSJ, e o assunto fosse levado à Assembleia Geral, quem prevalecia?
Comecei a contar espingardas e foi nesse momento que desci à terra:
-O Hospital de S. João.
Mas eu estava meramente a especular - ainda por cima a especular numa auto-estrada, numa bela tarde de sol, e ao volante de um veloz Mercedes 350 SL. Na prática, a questão não se punha e eu não mexeria um dedo para alterar o status quo.
A verdade é que a questão viria a revelar-se uma questão de vida ou de morte para a Associação Joãozinho seis meses mais tarde. A alteração na sua constituição viria, em breve, a ser feita, mas não por desígnio meu. Foi Deus que a fez e Deus manifestou-se desta vez através do Ministério do Trabalho e da Segurança Social.
Aconteceu quando a Associação Joãozinho submeteu o processo para a obtenção do estatuto de utilidade pública (IPSS).
Quando saí, conduzi o carro junto ao mar até à Cruz Quebrada, onde entrei na A5, depois na CREL até Loures. Estava agora no meu caminho preferido para o Porto, evitando a A1. Dali seguia pela A8 até à Marinha Grande, depois pela A17 - para mim, a melhor e a mais bela auto-estrada do país - até Aveiro, depois um pequeno troço da A25 até Estarreja, e finalmente a A29 até ao Porto.
O carro tinha onze anos e conhecia perfeitamente o caminho. Por isso, vim a pensar na conversa. Eu próprio já me conhecia há muito. Os meus melhores momentos para pensar eram a conduzir um automóvel na auto-estrada ou a fazer jogging ao ar livre. Pensamento em movimento.
E, a meio da viagem, acabaria por concluir que não tinha sido perfeitamente exacto perante o presidente da Apifarma quando referi a independência da Associação Joãozinho em relação ao Hospital de S. João.
No acto de constituição da Associação, que teve lugar no gabinete do presidente do HSJ, e perante um notário, estiveram presentes, como sócios fundadores, os cinco administradores do HSJ, a assessora do presidente, o director da Faculdade de Medicina que funciona em cooperação com o HSJ, e ainda o próprio HSJ, como sócio corporativo. Pessoas exteriores ao HSJ eram apenas quatro - eu, uma colaboradora minha de há mais de vinte anos, e mais duas pessoas.
A direcção da Associação ficou constituída por cinco membros, três executivos e dois não-executivos. Como executivos eu, a presidente, a minha colaboradora a quem imediatamente destinei o lugar de Tesoureira - para guardar dinheiro destinado a crianças não há como uma mulher, de preferência que seja mãe, e ela reunia as duas condições - e a assessora do presidente do HSJ, como vogal. Os dois membros não-executivos eram administradores do HSJ, entre eles, o presidente.
A questão que me ocorreu ao espírito, enquanto conduzia, era a seguinte: se algum dia surgisse um diferendo entre a direcção da Associação, a que eu presidia, e o HSJ, e o assunto fosse levado à Assembleia Geral, quem prevalecia?
Comecei a contar espingardas e foi nesse momento que desci à terra:
-O Hospital de S. João.
Mas eu estava meramente a especular - ainda por cima a especular numa auto-estrada, numa bela tarde de sol, e ao volante de um veloz Mercedes 350 SL. Na prática, a questão não se punha e eu não mexeria um dedo para alterar o status quo.
A verdade é que a questão viria a revelar-se uma questão de vida ou de morte para a Associação Joãozinho seis meses mais tarde. A alteração na sua constituição viria, em breve, a ser feita, mas não por desígnio meu. Foi Deus que a fez e Deus manifestou-se desta vez através do Ministério do Trabalho e da Segurança Social.
Aconteceu quando a Associação Joãozinho submeteu o processo para a obtenção do estatuto de utilidade pública (IPSS).
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