A conversa com o Núncio Apostólico deu-me ânimo, mesmo se nessa altura - a Primavera de 2014 - eu já não precisava de mais. Cada empresa ou pessoa que eu aproximava era mais um mecenas para a obra do Joãozinho. A tal ponto que eu cheguei ao Verão com a certeza de que não necessitaria de dez anos para pagar a obra, mas apenas de dois ou três, que era o prazo da sua execução.
O meu ânimo acrescido transcendia em parte o Joãozinho. Eu via agora a história do Ocidente nos últimos quinhentos anos, e a história de Portugal em particular, segundo a analogia de um combate de boxe com três combatentes no ringue, dois deles a baterem no outro. Este último tinha uma particularidade - não se defendia e era literalmente o bombo da festa.
Quando era levado ao tapete - o que acontecia frequentemente - ficava por lá estendido muito tempo. Nesses períodos, os outros dois, ocasionalmente, entretinham-se a baterem-se um ao outro. Eu sonhava pelo dia em que ele se levantasse e enfrentasse os outros dois, resolutamente e ao mesmo tempo. A publicação do novo Catecismo da Igreja Católica poderia ter marcado esse ponto de viragem.
Entretanto ia chegando ao meu conhecimento, peça a peça, informação sobre um assunto que eu não tinha interesse nenhum em conhecer. Refiro-me às rivalidades partidárias e corporativas - andavam as duas juntas - que, aparentemente, desde há muitos anos envolviam a construção da nova ala pediátrica do HSJ.
Estava prestes a ser inaugurado o Centro Materno-Infantil do Norte, um hospital especializado em obstetrícia e pediatria, ligado ao Hospital de S. António. Este projecto demorou trinta e cinco anos a concretizar. Pensei:
-Nas mãos dos políticos é assim...
Argumentava-se, então, desde há muito, que, com o número de crianças a diminuir e com esta oferta adicional de camas pediátricas na cidade, a nova ala pediátrica do HSJ seria desnecessária. Transmitiram-me que o rosto da oposição ao Joãozinho era o líder do PS-Porto, Manuel Pizarro, ele próprio médico do HSJ, actual vice-presidente da Câmara Municipal do Porto e, agora, candidato à Presidência.
A minha resposta era sempre a mesma. Não queria saber disso para nada, eu tinha uma missão que assumi e iria cumprir. Continuariam a afluir crianças ao HSJ; o HSJ era o Hospital de referência do Norte e, além disso, era o principal Hospital universitário do país e tinha de possuir uma pediatria. E que, se esse era o problema, eu também já tinha encontrado a solução para ele.
No Porto, há muito que é conhecida a rivalidade entre o Hospital de S. António e o Hospital de S. João. Quando Lisboa está envolvida, a rivalidade é entre o S. João e o S. Maria. E foi assim distanciado, e com o meu espírito de economista que, com o tempo, fui racionalizando a situação.
Da maneira seguinte:
Quando um mercado é dominado por um pequeno número de empresas, os economistas chamam-lhe um oligopólio, e se são apenas duas as empresas dominantes, dão-lhe o nome de duopólio. São várias as estratégias que se abrem aos duopolistas. Uma é entrarem em concorrência aberta um com o outro através de guerras de preços e de publicidade, ocupação de espaços do mercado, etc. É uma estratégia que pode ser ruinosa para ambos.
A alternativa é estabelecerem um acordo colusivo, explícito ou implícito, em que repartem o mercado: "Este é o meu território e aquele é o teu. Eu não me meto no teu território e tu não te metes no meu". Esta estratégia assegura a paz e podem ambos prosperar.
Ora, embora os partidos políticos aprovem leis que restringem estas práticas às empresas, eles próprios se comportam desta maneira, e os duopolistas são, obviamente o PS e o PSD, que há mais de trinta anos repartem entre si o poder político no país.
E foi assim que vim a descobrir mais tarde, mas sem surpresa, que o Hospital de S. António é terreno do PS e o Hospital de S. João é terreno do PSD. O Hospital de Santa Maria em Lisboa é terreno do PS (o actual Ministro da Saúde é o ex-presidente deste Hospital)
Os partidos políticos estão por todo o lado.
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