Existiam agora duas parcelas de terreno envolvidas no Projecto Joãozinho. Uma era a parcela de terreno onde seria construído o hospital pediátrico, a outra, situada a cerca de cem metros de distância, era a parcela de terreno onde seria construído o supermercado.
Meses depois, num artigo de página inteira para o Público, a jornalista Margarida Gomes misturou acidentalmente as duas parcelas de terreno numa só e informava os seus leitores que eu tinha andado a negociar clandestinamente com o Continente a instalação de um supermercado na parcela de terreno que me tinha sido cedida pelo HSJ para construir o hospital pediátrico.
Agarrei logo a ideia, na qual vi imediatamente substanciais economias de escala e também de escopo. A minha imaginação pegou fogo. Eu considerava o Continente a ideia mais valiosa que tinha tido ao serviço do Joãozinho. Mas agora tinha outra que complementava a anterior e que tornava o Joãozinho um projecto mecenático verdadeiramente original e único no mundo.
Era a de construir o hospital pediátrico e o supermercado na mesma parcela de terreno.
Das duas versões que pude considerar da ideia - construir o hospital pediátrico em cima do supermercado ou o supermercado em cima do hospital pediátrico - a que mais me agradou foi definitivamente a segunda. Por questões de estética.
Mas havia vários problemas logísticos a resolver.
Como é que se fariam os acessos ao supermercado, pela recepção do hospital ou pelo corredor que dava para a enfermaria? E neste segundo caso, como disciplinar o trânsito entre macas, cadeiras de rodas e carrinhos de compras - seriam necessários semáforos? É que ia haver acidentes de certeza...
E o movimento nos elevadores, como seria ? Eu conseguia imaginar os maqueiros a descerem de urgência pelo elevador uma criança para a sala de operações, e a D. Maria comprimida ao canto, o carro a abarrotar de compras, a protestar para o marido: "Que horror... estes elevadores não têm espaço nenhum...Para a semana vamos mas é ao Pingo Doce que os preços aqui estão fogo..."
De madrugada, eu imaginava o camião de abastecimento do Continente a descarregar os frescos na recepção e a barrar o caminho à ambulância, as sirenes ainda a tocar, as luzes intermitentes, os dois motoristas a discutirem acaloradamente à chuva quem é que tinha prioridade...
E o helicóptero ... onde é que iria aterrar o helicóptero?...
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