Eu sabia o efeito que iria produzir entre todos os que me conheciam. A partir daquele momento eu perdia a qualificação de cientista, se é assim que se pode chamar a um economista, e de um intelectual sério, porque na ciência é tão proibido falar de Deus quanto na política.
E em que é que eu pensei naqueles cinco dias em que caminhei do Porto até Fátima? Em muitos assuntos, e um deles foi a relação entre a fé e a razão - o tema central da obra do Papa Bento XVI -, não em abstracto, mas mediante um caso concreto.
Eu não sei fazer nem ductos nem lóbulos mamários, apesar de ser pai de duas filhas. E creio que nenhum homem sabe. Nem mulher.
Quem os fez é que há-de conhecer-lhes todos os segredos, como a verdadeira natureza do mal a que estão sujeitos, as resistências escondidas que eles próprios possuem para combater o mal, e as ajudas que podem vir dos outros órgãos do corpo para o mesmo fim.
Os médicos é que conhecem ainda muito pouco acerca disto. Caso contrário, não morreriam duas mulheres em cada três afectadas por este mal, ao cabo de cinco anos. Na realidade, se eles soubessem tudo, não morreria nenhuma.
E os médicos não sabem tudo acerca dos ductos e lóbulos mamários porque não foram eles que os fizeram. Só quem os fez é que pode saber tudo. Por isso, se as soluções que os médicos tinham para combater este mal eram tão modestas e deixavam tão pouca esperança, o único recurso racional era pedir a intervenção do seu autor.
A fé é o último passo da razão, a razão derradeira, aquela que se invoca quando todas as outras razões falharam. É o homem a dirigir-se ao seu autor para que ele lhe resolva os problemas e lhe desvende os mistérios da sua própria existência.
Quando, naquela noite de Novembro de 2010, pela hora do jantar, do alto de Santa Catarina da Serra, eu avistei as luzes de Fátima, sentia-me um homem perfeitamente racional. Aquilo que eu estava a fazer era aquilo que devia ser feito.
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