As probabilidades de sobrevivência são medidas aos cinco anos e eram, à partida, bastante curtas - 38% - significando na prática que, em cada três mulheres com aquele diagnóstico, apenas uma está viva passados cinco anos.
Comecei a contar os dias, os meses e os anos.
E o que seria de mim?
Não sabia fazer nada. Não sabia cozinhar. Trabalhos domésticos também não. Das raras vezes na minha vida em que fui chamado a fazer trabalhos domésticos, oferecia-me para limpar a loiça. Fazer a cama era o pior. Puxava o lençol de um lado e faltava-me lençol do outro.
É certo que tinha uma empregada doméstica. Mas isso não resolvia o problema. Quem me iria escolher o fato de manhã, a camisa e a gravata - sobretudo a gravata? Iria ficar ali pasmado, perante dezenas de gravatas, sem saber o que fazer?
E quanto a comprar sapatos, camisas, fatos, calções de banho ou uma simples t-shirt? Eu não sabia como escolher porque ao longo da minha vida - e salvo raríssimas excepções - eu nunca fiz nada disso. Tinha tido na vida duas fadas que, uma sucedendo à outra, sempre fizeram isso por mim - e a primeira já tinha falecido há algum tempo.
A conclusão foi catastrófica e angustiante. Eu não sabia viver sozinho. Confortou-me pensar que ninguém devia saber viver sozinho, e que eu era apenas um caso extremo.
Não sou médico mas decidi ir estudar a eficácia dos tratamentos, com especialização em quimioterapia. Não sou médico mas sou estaticista e a eficácia dos medicamentos é avaliada com base em testes estatísticos.
À angústia, juntou-se o desalento. Não fiquei nada convencido. Era o melhor que a medicina tinha para oferecer, é certo, mas eu fiquei desapontado.
Ainda assim, uma em cada três mulheres sobreviviam aos cinco anos. Uma em três é um acontecimento razoavelmente raro, que começa a apontar para o acontecimento raríssimo - o milagre.
Ora, milagres tratam-se em Fátima.
Decidi ir a Fátima. A pé.
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