O único sinal premonitório que tomei a sério foi este. Tinham passado quase seis meses sobre o meu comentário acerca dos partidos que iriam formar o novo Governo. O pormenor que dera origem à celeuma mediática estava praticamente morto.
A que propósito vinha agora este artigo, assinado pelo subdirector de um grande jornal nacional, e que praticamente lhe dava o estatuto de editorial? Que sinal estava ali, o que é que ele presumivelmente sabia e eu não sabia?
O título do artigo é uma interrogação e um apelo:
-Vamos...
Mas,
-Vamos... quem?
Ele não estava sozinho, falava no plural. Era certo que ele já tinha uma seita e todo o teor do artigo está orientado no sentido de exprimir os sentimentos da seita e de angariar ainda mais membros para a seita entre o público em geral.
Não foi este o aspecto a que dei mais importância porque os portugueses, na sua cultura católica, detestam seitas.
Fiquei mais apreensivo quando me concentrei no advérbio de tempo:
-Agora!?...
Procurei no artigo a resposta à interrogação que ele colocava no título. E a resposta que li foi: "Sim, mas não por aquele motivo".
Menos de dois meses depois recebi uma convocatória do DIAP que entretanto se transformou numa ameaça de prisão. E não foi por aquele motivo.
Mero acaso.
Eu acredito no acaso. É a vontade de Deus. E também a vontade do diabo, que é uma criatura de Deus.
Pelo caminho fiquei a saber que a liberdade de expressão não permite falar de judeus, arianos, caucasianos ou meros gentios, porque é tudo igual; de católicos, judeus, protestantes ou muçulmanos porque é ainda tudo igual; e, sobretudo, de homens e de mulheres porque não existe coisa mais radicalmente igual. E igual é ainda o direito e a liberdade de ofender.
E quando o meu interesse no artigo atingia o auge, quando o autor se propunha utilizar os argumentos da razão contra mim, num ápice a vontade desaparece, vota-me à indiferença e o artigo termina de maneira abrupta.
Ficou-me a imagem do valentão: "Agarrem-me ... senão eu mato-o!..."
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