Ainda há quem queira acabar com as touradas em Portugal ... creio que, genericamente, são os que pensam da mesma maneira daqueles que agora me gostariam de ver na prisão.
Da mesmo modo que a proibição de certas palavras, com o decorrer do tempo tempo, erradica do nosso espírito as ideias que elas representam, assim também a proibição das touradas levaria, a prazo, a que desaparecessem do nosso espírito as imagens que elas projectam.
E, para mim, a principal - porque é, de longe, a mais emocionante -, é a pega, especialmente aquele momento em que o forcado enfrenta o touro e o desafia. É o momento da decisão, um momento de vida ou de morte, geralmente acompanhado por um silêncio sepulcral da assistência.
Existe igualdade e diferença neste confronto. A igualdade está nas armas: ambos lutam com as armas que Deus lhes deu. A diferença está no poder: a besta pode matar o homem mas o homem dificilmente pode matar a besta.
É uma imagem maravilhosa e cheia de significado, a deste momento da Tourada.
O que é que existe naquele homem que se prepara para lutar contra o touro?
Existe liberdade porque ninguém o obriga a estar ali. Existe coragem e virilidade. Existe determinação. Existe concentração - todos os seus sentidos estão concentrados ao mais alto grau. Existe uma enorme crença nas suas capacidades e uma confiança ilimitada em si próprio. Mas, acima de tudo, existe nele uma profunda convicção e uma fé absoluta de que será ele a prevalecer.
Foi nesta altura que eu próprio devo ter entrado em êxtase.
Pois se existem homens que são capazes de enfrentar uma besta e pegá-la pelos cornos, por que é que eu não havia de ser capaz de enfrentar o Ministério Público - e pegá-lo pelos chifres?
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