Ao longo dos meus dois anos e meio como comentador no Porto Canal, a instituição que mais critiquei foi a da Justiça e, em particular, o Ministério Público. Estava no auge o "Caso Sócrates", que frequentemente fornecia temas de comentário.
A minha indignação era total. O Eng. José Sócrates, antes de ser político, é um ser humano. E eu nunca imaginei que a Justiça em Portugal pudesse cometer sobre um ser humano tantos abusos, humilhações e violências.
Não tenho simpatia pelo partido do Eng. José Sócrates - muito menos pela sua governação -, nem por nenhum outro, mas sou um ser humano como ele. Por isso, não podia deixar de me insurgir de maneira contundente contra o Ministério Público e o juiz de instrução criminal (*), e de me perguntar:
-E se um dia me acontecesse a mim ... eu gostava?...
Hoje, a resposta a esta questão não é, como seria na altura, meramente especulativa.
A segunda instituição que mais critiquei foi a dos partidos políticos, sendo as minhas críticas concretizadas geralmente nos cinco maiores partidos do país. Se ao Ministério Público tratei por diabo à solta, aos partidos reservei a designação de grande cancro da sociedade portuguesa.
Até que - parecia caída do céu -, surgiu a oportunidade de resumir todos os males que já tinha referido acerca dos partidos num só comentário, e juntar mais um. Foi no momento em que três partidos - cada um deles tendo perdido as eleições democráticas - se juntaram para usurpar o poder, que pertencia a outro.
O comentário foi este.
Olhando para trás, foi um comentário devastador para partidos que se preparavam para ocupar o poder.
O pessoal dos partidos, e os próprios jornalistas - em geral, altamente partidarizados -, rapidamente se encarregaram de pegar no assunto por um aspecto marginal (o pormenor das "esganiçadas") a fim de desviar a atenção da parte substancial do comentário e virar a opinião pública contra mim.
Fui então alvo da maior campanha de insultos, ameaças, difamações, calúnias e chacotas de que guardo memória - e, no passado, já tinha sido alvo de algumas. Aguentei. Sou uma figura pública.
Embora um figura pública órfã de partido e altamente crítica dos partidos - de todos, sem excepção. Num comentário que dediquei especialmente ao assunto indiquei as reformas necessárias para os partidos políticos passarem a servir o bem-comum, e deixarem de servir fins sectários.
Ministério Público e partidos políticos... diabo à solta e grande cancro ... ainda por cima visando directamente os partidos que, em breve, iriam ser poder. O nível de risco estava a subir. Sobretudo quando se trata de duas instituições que não são independentes uma da outra.
O Ministério Público é a mais partidarizada de todas as instituições da Justiça. É o palco mediático da luta partidária na Justiça. É o órgão através do qual se ajustam contas partidárias sob a capa de se estar a fazer Justiça. Faz-se sobretudo política no Ministério Público, e muito pouca justiça. Na realidade, faz-se lá muita injustiça.
(*) Trata-se de uma versão curta do comentário completo. A maior parte dos meus comentários no Porto Canal podem procurar-se na internet ou no site da estação.
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