Há ironias na vida. E uma das características mais salientes da idade madura é a capacidade para aceitar a realidade tal como ela é: "É assim, e não há volta a dar-lhe, ainda que eu gostasse que fosse diferente...".
Um homem que se rende à realidade é também um homem que se rende a Deus. Num dos mais recentes livros sobre o Papa Bento XVI -. que é uma entrevista e um balanço de vida daquele que é provavelmente o maior teólogo dos últimos séculos - o autor pergunta-lhe:
-O que é Deus?...
É o momento decisivo do livro, o seu clímax. Por um instante, tive a tentação de virar a cara para evitar conhecer a resposta, se é que Joseph Ratzinger tinha uma resposta para dar - uma resposta que fosse simples, clara, verdadeira, decisiva e última:
-Deus é a realidade,
foi o que ele respondeu.
Por isso, é rendido à realidade e a Deus que gostaria de constatar o seguinte:
É uma ironia que um homem, presidindo a uma instituição pública, que me pediu para angariar recursos para fazer um hospital de crianças por via mecenática - já que o Estado não tinha dinheiro para a fazer -, dando continuidade a um projecto que ele próprio iniciara; e tendo eu respondido à chamada, empenhando-me de tal maneira que, em poucos meses, a obra estava a ser começada; é uma ironia - dizia eu - que este homem esteja agora do lado daqueles que me querem meter na prisão. E que me querem meter na prisão por delitos de opinião.
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