E que episódio foi esse?
O seguinte.
No final da audiência, saí do meu lugar e preparei-me para atravessar a sala em direcção à Juiza para a cumprimentar.
Chegado a meio da sala, como que intuindo aquilo que poderia acontecer, parei e perguntei:
-Senhora doutora, posso cumprimentá-la?...
Nesse momento, a senhora levantava-se. Virou ligeiramente o rosto, ao mesmo tempo que fazia uma expressão que me pareceu de contrariedade por aquilo que me ia dizer e, numa voz delicada mas perfeitamente audível, disse:
-Eu não costumo cumprimentar...
Já não avancei mais, desistindo imediatamente da ideia de cumprimentar também o magistrado do Ministério Público.
E saí.
Mais tarde racionalizei perfeitamente esta pequena humilhação pensando que se estivesse no lugar dela provavelmente teria feito o mesmo.
Aquele lugar onde durante quase três horas eu estive e no qual ela me ouviu e me pôde observar, é o mesmo lugar onde ela ouve e observa diariamente, no exercício da sua profissão, traficantes, ladrões, homicidas, pedófilos, e toda a espécie de criminosos os quais, obviamente, ela não cumprimenta.
Por que é que havia de me cumprimentar a mim?
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