19 julho 2017

Aquele lugar

E que episódio foi esse?

O seguinte.

No final da audiência, saí do meu lugar e preparei-me para atravessar a sala em direcção à Juiza para a cumprimentar.

Chegado a meio da sala, como que intuindo aquilo que poderia acontecer, parei e perguntei:

-Senhora doutora, posso cumprimentá-la?...

Nesse momento, a senhora levantava-se. Virou ligeiramente o rosto, ao mesmo tempo que fazia uma expressão que me pareceu de contrariedade por aquilo que me ia dizer e, numa voz delicada mas perfeitamente audível, disse:

-Eu não costumo cumprimentar...

Já não avancei mais, desistindo imediatamente da ideia de cumprimentar também o magistrado do Ministério Público.

E saí.

Mais tarde racionalizei perfeitamente esta  pequena humilhação pensando que se estivesse no lugar dela provavelmente teria feito o mesmo.

Aquele lugar onde durante quase três horas eu estive e no qual ela me ouviu e me pôde observar, é o mesmo lugar onde ela ouve e observa diariamente, no exercício da sua profissão, traficantes, ladrões, homicidas, pedófilos, e toda a espécie de criminosos os quais, obviamente, ela não cumprimenta.

Por que é que havia de me cumprimentar a mim?

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